segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Praia Grande (São Paulo)

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Município da Estância Balneária de Praia Grande


Brasão Bandeira

Hino
Fundação 19 de janeiro de 1967
Gentílico praiagrandense ou cariate
Prefeito(a) Roberto Francisco dos Santos
Localização

24° 00' 21" S 46° 24' 10" O
Unidade federativa São Paulo
Mesorregião Metropolitana de São Paulo IBGE/2008 [1]
Microrregião Santos IBGE/2008 [1]
Região metropolitana Baixada Santista
Municípios limítrofes Norte e Nordeste: São Vicente e
Oeste: Mongaguá
Distância até a capital 86 quilômetros
Características geográficas
Área 149,079 km²
População 244.533 hab. est. IBGE/2008 [2]
Densidade 1.646,0 hab./km²
Altitude 3 metros
Clima tropical Af
Fuso horário UTC-3
Indicadores
IDH 0,796 médio PNUD/2000 [3]
PIB R$ 1.751.999 mil IBGE/2005 [4]
PIB per capita R$ 7.377,00 IBGE/2005 [4]


Praia Grande é um município do estado de São Paulo, na Região Metropolitana da Baixada Santista, na microrregião de Santos. A população estimada em 2006 era de 244.533 habitantes e a área é de 145 km², o que resulta numa densidade demográfica de 1.444,12 hab/km².Índice [esconder]
1 Estância balneária
2 Região Metropolitana
3 História
4 Geografia
4.1 Demografia
4.2 Bairros
4.3 Hidrografia
4.4 Abastecimento de Água
4.5 Acessos
5 Transporte
6 Infovia
7 Esportes
8 Administração
9 Referências
10 Ver também
11 Ligações externas


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Estância balneária
Ver artigo principal: Estância turística

Praia Grande é um dos 15 municípios paulistas considerados estâncias balneárias pelo Estado de São Paulo, por cumprirem determinados pré-requisitos definidos por Lei Estadual. Existem outros municípios, que não sendo estâncias balneárias, ainda assim são estâncias turísticas. Tal status garante a esses municípios uma verba maior por parte do Estado, através do DADE (Departamento de Apoio às Estâncias do Estado de São Paulo), para a promoção do turismo regional. Também, o município adquire o direito de agregar junto a seu nome o título de Estância Balneária, termo pelo qual passa a ser designado tanto pelo expediente municipal oficial quanto pelas referências estaduais.

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Região Metropolitana

Praia Grande forma, junto com os municípios de Bertioga, Cubatão, Guarujá, Itanhaém, Mongaguá, Peruíbe, Santos e São Vicente, a Região Metropolitana da Baixada Santista, criada pela Lei Complementar 815, de 30 de junho de 1996, tornando-se, assim, a primeira Região Metropolitana brasileira criada sem status de capital estadual. Considerando-se a população de todas as cidades, a Região pussui 1.476.820 habitantes, conforme Censo IBGE 2000.

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História

Embora sua emancipação política seja relativamente recente, a área compreendida hoje pelo município de Praia Grande foi uma das primeiras regiões colonizadas pelos portugueses, o que se iniciou com a chegada do fidalgo Martim Afonso de Sousa em 1532. A primeira vila fundada pelo explorador, enviado pela coroa portuguesa, foi justamente a de São Vicente, de que Praia Grande permaneceu como parte até 1967.

Até o início do século XX, Praia Grande não passava de um vilarejo, com poucas construções e um número ínfimo de moradores, que se dedicavam basicamente à pesca e à agricultura de subsistência. O grande salto no desenvolvimento da região deu-se a partir da década de 1910, com a inauguração da Fortaleza de Itaipu e com a construção da Ponte Pênsil - esta, porém, no município de São Vicente -, com a finalidade de dar acesso à fortaleza recém-construída aos que vêm da ilha de São Vicente (onde se localizam as cidades de Santos e São Vicente). Logo após, na década de 1920, Praia Grande, pela primeira vez, viu seu atual território interligado por terra, graças a ligação telegráfica entre Itanhaém e Santos, o que obrigou à abertura da avenida do Telégrafo Nacional (hoje denominada avenida Presidente Kennedy, é o principal corredor urbano da cidade).

Com tudo isso, diversos migrantes foram atraídos para o então distrito rural de São Vicente, dada a existência de terra em abundância e a fácil ligação à principal cidade da região, Santos. Todavia, ao longo dos tempos, a morosidade dos mandatários vicentinos para resolver os problemas de Praia Grande (que era tratada como um bairro periférico, onde faltavam escolas, hospitais, saneamento básico, iluminação pública, abastecimento de água e luz, transportes, entre outras coisas), revoltou os moradores locais. No começo do século XX, surge o primeiro movimento pró-emancipação, que defendia a criação de um município no atual distrito de Solemar, movimento este que logo acabou se dissipando.

Mas o ideal de autonomia político-administrativa não foi sepultado. Em 1953, o líder local Julio Secco de Carvalho encabeçou, juntamente com Nestor Ferreira da Rocha, Heitor Sanchez Toschi, Dorivaldo Loria Júnior e Israel Grimaldi Milani, um novo movimento pela emancipação de Praia Grande. Esse grupo ficou conhecido como "Os Emancipadores". São Vicente, por sua vez, tentava rechaçar qualquer tentativa de emancipar o então longínquo distrito, pois isso significaria uma perda de 24 quilômetros de praias, com um potencial turístico sub-explorado até então. Mesmo com toda a resistência sofrida, os emancipadores conseguiram que fosse realizado um plebiscito na região, a fim de se verificar a vontade da população local. Em 1963, o plebiscito foi realizado, sendo que a emancipação foi a alternativa escolhida pela maioria esmagadora da população. Mesmo assim, ainda se passariam alguns anos até que Praia Grande conquistasse sua autonomia.

Em 19 de janeiro de 1967, após uma longa e árdua luta, finalmente Praia Grande conquistou o status de município, sendo nomeado como interventor federal o engenheiro Nicolau Paal, e instalando-se, provisoriamente, a prefeitura no Ocian Praia Clube. Em 15 de novembro de 1968, foi realizada a primeira eleição municipal em Praia Grande, onde foi eleito como prefeito Dorivaldo Loria Júnior.

Após a emancipação, a cidade acelerou levemente o ritmo de crescimento experimentado desde a década de 1950, ganhando, no entanto, maior qualidade em seus serviços públicos, dada a proximidade do poder municipal com a realidade da população local. Na década de 1980, a cidade ganha novo impulso para seu crescimento, com a inauguração da Ponte do Mar Pequeno (no trecho final da Rodovia dos Imigrantes), ligando a ilha de São Vicente à cidade, e resolvendo dois problemas de uma só vez: além de desafogar o trânsito na saturada Ponte Pênsil, a cidade ganhava uma ligação direta à Capital, sem a necessidade de se passar pelas cidades de Santos e São Vicente, a fim de acessar a Via Anchieta, então a única opção para se chegar à capital. Assim, Praia Grande passou a ser o balneário mais próximo da capital.

No entanto, esta facilidade de acesso trouxe grandes inconvenientes: uma enxurrada de turistas de um dia (popularmente conhecidos como "farofeiros"), de baixa renda, começaram a invadir as extensas praias da cidade, Isto, somado ao grande crescimento populacional e ao quase inexistente saneamento básico, tornaram a balneabilidade das praias quase impossível. Grandes canais de esgoto cortavam as areias, lançando no mar os dejetos sem qualquer tratamento. Em 1992, a cidade já contava com 120 mil habitantes, e menos de 10% dos seus domicílios possuía coleta de esgoto que não era tratado, sendo lançado por um velho emissário submarino a apenas 400 metros das praias. Menos da metade dos logradouros públicos eram pavimentados, o tratamento paisagístico dos pontos turísticos era inexistente, não havia sequer um semáforo instalado na cidade, as linhas de ônibus não atendiam aos novos bairros surgidos, entre outros grandes problemas.

A partir de 1993, no entanto, a cidade passou por uma verdadeira revolução: o sistema de transportes foi totalmente remodelado, mais de 90% das ruas foi pavimentada, o esgoto passou a ser coletado em 60% dos domicílios, tratado e arremessado a mais de 2 quilômetros da costa (número que, até 2008, chegará a 100%), a orla da praia e os principais pontos turísticos foram totalmente reurbanizados, proibiu-se a entrada de ônibus de excursões sem prévia licença da prefeitura, o sistema viário foi totalmente revisto e readequado, em intervenções que ocorreram até 2006.

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Geografia

Seus limites são São Bernardo do Campo ao Norte, São Vicente a Nordeste, o Oceano Atlântico a Leste, Sudeste e Sul, Mongaguá a Oeste, e São Paulo ao Noroeste.

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Demografia

Até o início da década de 1990, a maior parte dos habitantes de Praia Grande morava junto à praia, concentrada principalmente na região compreendida entre a praia do Boqueirão, onde está localizado o centro da cidade, e a praia do Ocian. No entanto, a partir do meio dos anos 90, o boom da construção civil, ocorrido graças a uma série de obras de infra-estrutura, paisagismo e urbanização, que até então eram demasiadamente precários, acabou atraindo milhares de famílias para o município, em busca dos empregos oferecidos pelas empreiteiras e construtoras, causando um imenso inchaço populacional na região compreendida entre a atual Via Expressa Sul, a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega e a Serra do Mar criando bairros periféricos, como Jardim Quietude, Ribeirópolis,Jardim Samambaia, entre outros, mas que hoje, ja estão todos em vias de urbanização, com escolas, creches, transporte público e pavimentação em grande parte de suas ruas, além de futuros investimentos de porte feitos pela prefeitura nesses locais, como os 16 milhões de reais que serão investidos no bairro periférico Glória, em sua completa reurbanização.

Em 2007, estima-se que Praia Grande possua 250.000 habitantes. Vale lembrar que a população do município cresce em mais de dez mil habitantes por ano.

Censo de 2000 População Total: 193.582
Urbana: 193.582
Rural: 0
Homens: 94.521
Mulheres: 99.061

Densidade demográfica (hab./km²): 1348,06

Mortalidade infantil até 1 ano (por mil): 20,41

Expectativa de vida (anos): 68,96

Taxa de fecundidade (filhos por mulher): 2,31

Taxa de Alfabetização: 93,51%

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M): 0,796
IDH-M Renda: 0,763
IDH-M Longevidade: 0,733
IDH-M Educação: 0,891

(Fonte: IPEADATA)

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Bairros

Praia Grande é dividida em dois distritos: o Distrito Sede e o Distrito de Solemar, próximo à divisa com Mongaguá.

Os bairros podem ser caracterizados entre Bairros Litorâneos, os que se encontram à margem da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega e que são conhecidos como Bairros Periféricos, e a chamada Região Serrana. Desde 1992, com a criação do Projeto Rumo, cada bairro passou a ser identificado com uma cor diferente, inserida em todas as identificações públicas relativas a cada bairro.

>>>Os Bairros Litorâneos, com as alterações do Projeto Rumo ocorridas em 2005, de norte a sul, são:
Canto do Forte (Distrito Sede)
Boqueirão (Distrito Sede)
Guilhermina (Distrito Sede)
Aviação (Distrito Sede)
Tupi (Distrito Sede)
Ocian(Distrito Sede)
Mirim (Distrito Sede)
Maracanã (Distrito de Solemar)
Aloha (Distrito de Solemar)
Caiçara (Distrito de Solemar)
Imperador (Distrito de Solemar)
Paquetá (Distrito de Solemar)
Jardim Real (Distrito de Solemar)
Flórida (Distrito de Solemar)
Solemar (Distrito de Solemar)

>>>Também de norte a sul, os bairros no interior do município são:
Xixová (Distrito Sede)
Intermares (Distrito Sede)
Sítio do Campo (Distrito Sede)
Tude Bastos (Distrito Sede)
Glória (Distrito Sede)
Guaramar (Distrito Sede)
Vila Sônia (Distrito Sede)
Maxland (Distrito Sede)
Vila São Jorge (Distrito Sede)
Tupiry (Distrito Sede)
Anhangüera (Distrito Sede)
Jardim Quietude (Distrito Sede)
Santa Maria (Distrito Sede)
Andaraguá (Distrito de Solemar)
Nova Mirim (Distrito Sede)
Ribeirópolis (Distrito de Solemar)
Parque das Américas (Distrito de Solemar)
Jardim Samambaia (Distrito de Solemar)
Jardim Melvi (Distrito de Solemar)
Jardim Princesa (Distrito de Solemar)
Cidade da Criança (Distrito de Solemar)

>>>Próxima à divisa com São Bernardo do Campo fica a Região Serrana:
Serra do Mar (Distrito de Solemar), único bairro, consiste no Parque Estadual da Serra do Mar

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Hidrografia

Com 23 quilômetros de extensão, a costa de Praia Grande é dividida em 10 praias: Forte, Boqueirão, Guilhermina, Aviação, Tupi, Ocian, Vila Mirim, Vila Caiçara, Balneário Florida e Solemar, sendo o centro da cidade no Boqueirão. Seu interior contém alguns mangues.
Rio Aguapeí
Atlântico

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Abastecimento de Água

Ná área de saneamento básico, Praia Grande vai dar um imenso salto qualitativo a partir de 2006. O Progarama Onda Limpa, do governo do estado de São Paulo, entrou em ação e promete investir mais de 90 milhões de reais no município, fazendo com que Praia Grande tenha 100% de esgoto coletado e tratado, além da construção do terceiro emissário submarino da cidade, no bairro solemar, o que irá acabar, definitivamente, com a poluição das dez praias da cidade, que ja estão, na atualidade, bastante limpas, fora da temporada de verão, é óbvio. Até porque, com 1 milhão de paulistanos (número real de turistas que a cidade recebe no verão), não é mantida a água limpa.

Praia Grande possui dois sistemas distintos de abastecimento de água. Um deles, é o também utilizado pelos municípios de Santos, São Vicente e Cubatão, com a captação ocorrendo na bacia do Rio Cubatão. Esse sistema é responsável pelo abastecimento da maior parte da cidade. Há também um segundo sistema, cuja captação ocorre na Serra do Mar, próximo à Cachoeira do Guariuma, sistema este compartilhado com o município de Mongaguá.

Recentemente, foram concluídas as obras de integração dos dois sistemas, bem como a construção de três reservatórios, já que a única caixa d'água da cidade encontra-se desativada desde meados da década de 80. Também há um projeto de construção de um mega-reservatório dentro do Parque Estadual do Xixová-Japuí, que atenderia, além de Praia Grande, aos municípios de Santos e São Vicente, mas que, por motivos ambientais (o Parque Estadual é reserva florestal permanente) e militares (dentro do parque encontra-se instalada a Fortaleza de Itaipú), por enquanto, encontra-se descartado.

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Acessos

Praia Grande ganhou recentemente a "Via Expressa Sul", obra realizada pela prefeitura do município. São mais de dez quilômetros de vias expressas, com limite de velocidade de 80 km/h, sem nenhuma interrupção, além de passagens subterrâneas para pedestres. Os ciclistas também foram contemplados com a obra: a via é cercada por mais de 20 quilômetros de ciclovias, sinalizadas e ladeadas por um extenso jardim. O investimento na pista chegou a noventa milhões de reais dos quais, 75 milhões foram provenientes de recursos próprios da prefeitura.É considerada um modelo de urbanização e desenvolvimento rodoviário para todo o país. A Via Expressa Sul liga o bairro do Boqueirão(entrada da cidade), até a Vila Mirim, possibilitando rápido e seguro acesso a moradores e turistas que queiram se deslocar até a parte sul da cidade, ou até mesmo, aos municípios do litoral sul do estado(Mongaguá, Intanhaém, etc.) Os principais acessos para se chegar até Praia Grande são o Sistema Anchieta-Imigrantes (SP-150 e SP-160), e a Rodovia Padre Manoel da Nóbrega (SP-55), que, por ser o trecho estadual da Rodovia BR-101, liga a cidade com as regiões Sul (via Rodovia Régis Bittencourt) e demais estados da região Sudeste, principalmente com o Rio de Janeiro.

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Transporte

Praia Grande conta com dois Terminais Urbano-Rodoviários, localizados nos bairros Tude Bastos e Mirim, de onde partem ônibus para as principais cidades do Brasil e até para o exterior (Paraguai, Uruguai e Argentina).

Através do Projeto Integração, cuja implantação começou em 1996 e foi finalizada em 2004, as linhas intermunicipais metropolitanas não mais cruzam o município, com exceção daquelas cujo ponto-final se encontram no bairro Samambaia (devido ao excesso de demanda), no bairro Solemar (por atender moradores da vizinha Mongaguá) e a com destino à Peruíbe. Todas as demais desembocam nos Terminais, onde, a partir de então, os usuários passam para o sistema municipal, e vice-versa, pagando apenas a diferença de tarifa, quando houver.

A cidade também foi pioneira na implantação da cobrança eletrônica de tarifa, através de cartões e bilhetes magnéticos, ocorrida em 1998. Conta com 17 linhas, dentre as quais uma turística, que opera somente aos sábados, domingos e feriados (durante a temporada de verão, sua operação é contínua) e duas noturnas, que atendem diariamente cerca de 120 mil pessoas.

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Infovia

Praia Grande foi pioneira no Brasil a instalar a Infovia, uma interligação em fibra ótica de todas as repartições públicas municipais, o que resultou em mais de 300 km de cabos instalados pelas principais ruas e avenidas da cidade. Com essa rede, também foi possível a instalação de mais de 1200 câmeras de vídeo ao longo dos locais de maior movimento da cidade, bem como em prédios públicos e monumentos. Toda a cidade é monitorada, através dessas câmeras, por uma central, diretamente interligada com a Guarda Municipal e a Polícia Militar. Com isso, os índices de ocorrências policiais cairam cerca de 60%, e o de depredações em equipamentos públicos municipais, em 40%.

Hoje, Praia Grande é a cidade com o maior número de câmeras de vigilância das américas, e a segunda do mundo, perdendo apenas para a cidade de Londres, na Grã-Bretanha. Há a previsão de instalação, nos próximos 2 anos (a partir de 2007), de mais 900 câmeras, ultrapassando, assim até mesmo Londres na quantidade de câmeras instaladas.

Além do monitoramento, a Infovia permite o acesso de dados a qualquer unidade de instituições públicas municipais, em tempo real. Isto facilita, por exemplo, o atendimento médico, pois, antes mesmo de o paciente realizar a primeira consulta, o médico já terá acesso a todo o histórico de todos os atendimentos deste paciente na rede municipal de saúde, inclusive por quais médicos de quais especialidades já houve consultas, exames realizados, medicamentos receitados, alergias, e tudo o mais que do histórico fizer parte.

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Esportes

Futebol:
Uma curiosidade da cidade é a existência de três "Grêmios": o Grêmio dos Servidores (Grêmio), o Grêmio dos Reservistas da Fortaleza de Itaipú (Itaipú) e o Grêmio de Futebol Comercial (Comercial). Outros clubes são o Ocian, o Boavista, o Oriental, o Cesac, a Tudense e o Real.
Basquete:
A equipe da cidade é a AAPG, que participa da Nossa Liga de Basquetebol. Sua casa é o Ginásio Magic Paula, no Bairro da Grande Planície.
Ginástica Artística:
A cidade conta com um moderno ginásio localizado no Canto do Forte exclusivo para a prática da Ginástica Artística, inaugurado em 2007.
Atletismo:
A pista de atletismo de Praia Grande foi constrída para os Jogos Abertos do Interior, sediados na cidade no ano de 2007, e conta com uma infraestrutura de primeira, atraíndo inclusive atletas internacionais. A composição da pista absorve o impacto, reduzindo as chances de lesão dos atletas. Além disso fica dentro do Parque Leopoldo Eustásio Vanderlinde, numa área cercada de verde.

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Administração
Prefeitos Eleitos:

Dorivaldo Loria Júnior (1969-1972);
Leopoldo E. Vanderlinde (1973-1976);
Dorivaldo Loria Júnior (1977-1982);
Wilson Guedes (1983-1988);
Dorivaldo Loria Júnior (1989-1992);
Alberto Pereira Mourão (1993-1996);
Ricardo Akinobu Yamauti (1997-2000);
Alberto Pereira Mourão (2001-2004);
Alberto Pereira Mourão (2005-2008)
Roberto Francisco dos Santos (2009-em exercício)

Referências
? 1,0 1,1 Divisão Territorial do Brasil. Divisão Territorial do Brasil e Limites Territoriais. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (1 de julho de 2008). Página visitada em 11 de outubro de 2008.
? Estimativas da população para 1º de julho de 2008 (PDF). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (29 de agosto de 2008). Página visitada em 5 de setembro de 2008.
? Ranking decrescente do IDH-M dos municípios do Brasil. Atlas do Desenvolvimento Humano. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) (2000). Página visitada em 11 de outubro de 2008.
? 4,0 4,1 Produto Interno Bruto dos Municípios 2002-2005. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (19 de dezembro de 2007). Página visitada em 11 de outubro de 2008.

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Ver também
Baixada Santista

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Ligações externas
Página da prefeitura
Praia Grande no WikiMapia

São Paulo
São Bernardo do Campo Cubatão
v ? d ? e ? h



Mongaguá São Vicente
Praia Grande


Oceano Atlântico




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Instruções da predefinição



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Praia Grande (São Paulo)

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Yoshihide Shinzato
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Yoshihide Shinzato (Haebaru, Shuri, 15 de março de 1927 ? Santos, 13 de janeiro de 2008) foi um mestre de caratê nipo-brasileiro.

Começou a praticar caratê aos doze anos de idade, na escola (curso ginasial) com Anbun Tokuda (1886-1945), contemporâneo de Choshin Chibana e, como este, discípulo do Grão-Mestre Anko Itosu.

Após completar os estudos, Shinzato entrou para a academia do renomado mestre Choshin Chibana. Durante a Segunda Guerra Mundial, Shinzato serviu no exército japonês como rádio-telegrafista, em Tóquio, retornando ao fim da guerra a Okinawa, onde retomou os treinamentos com Chibana.Índice [esconder]
1 A chegada a Santos
2 A fundação da Associação Okinawa
3 Mudanças na Shorin em Okinawa
4 Visitas do Mestre Miyahira ao Mestre Shinzato
5 A ligação de Mestre Shinzato ao caratê
6 O livro Kihon
7 Mestre Shinzato e sua família
8 Shin Shu Kan no exterior
9 Homenagens
10 Ligações externas


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A chegada a Santos

Devido às grandes dificuldades decorrentes do período pós-guerra, Shinzato resolveu aceitar o convite de um tio que havia emigrado para o Brasil e tomou um navio, desembarcando em Santos em 15 de janeiro de 1954, onde viria a fixar residência no município de Praia Grande. Assim que chegou, imbuído do espírito de aventura, Shinzato passou a trabalhar na lavoura onde plantava principalmente agrião, tornando-se, em seguida, feirante em Santos. Neste período, Shinzato começou a praticar o caratê nos fundos de sua casa, onde ensinava ao filho mais velho e aos filhos de alguns membros da colônia okinawana local.

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A fundação da Associação Okinawa

Em 1962 Shinzato fundou a sua primeira academia em Santos, a Associação Okinawa Shorin-ryu Karate-Do do Brasil, que viria mais tarde a se tornar uma forte associação. 5 anos depois, fundou uma organização nacional, a União Shorin-ryu Karate-Do do Brasil, com centenas de academias e clubes filiados.

Apesar de muito ligado ao espírito marcial do caratê, Shinzato tem dado muita importância ao aspecto esportivo da luta, incentivando a prática do caratê de competição, sem o qual, nos dias de hoje, uma arte marcial não sobrevive, principalmente com o advento do caratê olímpico, após o reconhecimento da modalidade pelo Comitê Olímpico Internacional.

Apesar de dar aulas nos fundos de sua casa na Praia Grande algum tempo após sua chegada ao Brasil, somente em 3 de junho de 1962 Yoshihide Shinzato fundou a sua primeira escola, a Academia Santista de Karate-Do, na rua Brás Cubas em Santos. Em 15 de dezembro de 1962 a academia foi transferida para a Rua 15 de Novembro, no. 198. Três anos mais tarde, em 10 de junho, passou a se chamar Associação Okinawa Shorin-ryu Karate-Do do Brasil, sendo transferida mais uma vez para a rua General Câmara e depois para Avenida Senador Feijó, 219, 2o. andar em 15 de maio de 1976 . Hoje sua academia, (também conhecida como Shin shu kan - nome derivado dos ideogramas que compõem o seu próprio nome, Shin de Shinzato e Shu ou Yoshi de Yoshihide, e Kan que significa academia) fica situada na avenida Senador Feijó, sempre em Santos, para onde foi transferida em janeiro de 2000. Seu dojo é frequentemente visitado por caratecas (de todas as faixas e graus), não só do Brasil como também do exterior. Nele são realizados os mais importantes cursos, dos quais participam praticantes, inclusive de outros estilos, sendo considerado a sede da União Shorin-ryu Karate-Do do Brasil, e reuniöes e assembléias onde são tomadas as principais decisões da entidade. Bastante espaçosa e bem equipada com makiwara (tábua de madeira para calejamento de mãos e pés), sunatawara (sacos de areia para treinamento de socos, cuteladas e chutes), e equipamento de musculação (apesar de utilizar ainda os antigos implementos inventados pelos professores de Okinawa, tais como os feixes de bambu e os jarros de cerâmica cheios com areia), a academia recebe mais de 200 alunos por dia.

Pelos registros já passaram pela escola mais de 7000 alunos do sexo masculino e mais de 300 do sexo feminino. Na academia são ministradas aulas pela manhã e à tarde nas segundas, quartas, sextas-feiras e sábados, e à tarde nas terças e quintas-feiras. Em quase todas as aulas o Mestre Shinzato participa com seus ensinamentos preciosos, onde fazem sucesso as técnicas de yakusoku-kumite - treinamento de defesa pessoal. O seu método de aula incorpora uma ginástica completa (com quase uma hora de duração), bases de ataque e defesa, katas, técnicas de defesa pessoal, luta de competição, prática com armas antigas e treinamento em aparelhos de fortalecimento físico e teoria de caratê, onde estão incluídos o embasamento biofísico e bioquímico e filosofia zen-budista. O principal objetivo é atingir o fortalecimento físico e mental do praticante através de uma equilibrada harmonia de interação e a construção de uma perfeita ética de conduta moral.

Dentre os alunos de Yoshihide Shinzato destacam-se caratecas famosos, alguns campeões nacionais e internacionais do cenário brasileiro, sul-americano e pan-americano, outros eminentes políticos da Baixada Santista. Pelo seu grande trabalho de divulgação nacional e internacional do caratê em prol, não apenas da modalidade, mas também de formação do caráter da juventude que pratica este esporte maravilhoso, Shinzato tem recebido muitos prêmios, sendo o mais famoso deles o título de Cidadão Santista, dado pela Câmara Municipal de Santos, em 1983. Em Okinawa seu trabalho foi reconhecido também e de Miyahira recebeu, em 1986, o título de nono Dan Hanshi. Na Confederação Brasileira de Karate Shinzato é considerado 8o. Dan.

Todo último domingo de cada mês são realizados treinamentos especiais para faixas-pretas (os quais são obrigatórios para aqueles que almejam os graus mais altos). Cursos de arbitragem são ministrados pela União com a anuência da Confederação Brasileira de Karate e da Federação de Karate do Estado de São Paulo. Nos outros estados também é grande a participação das filiadas nos cursos organizados pelas Federações locais. Diversos torneios são realizados a nível estadual e municipal, mas uma vez por ano é realizado um campeonato do estilo Shorin Ryu do qual todas as academias e clubes filiados costumam participar. No fim de cada ano a União, sob a égide de Yoshihide Shinzato, faz realizar o Shorin-ryu Karate-Do Bonenkai, uma grande festa de confraternização onde são realizadas demonstrações e cursos de atualização de kata.

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Mudanças na Shorin em Okinawa

De tempos em tempos, Shinzato viajava a Okinawa para reciclar o seu caratê com Choshin Chibana, sempre trazendo as novidades da ilha para o Brasil, procurando evitar a degeneração do estilo devido à distância em relação aos centros onde o Shorin-ryu é praticado em Okinawa.

Após a morte de Chibana em 1969, Shinzato passou a manter relações mais estreitas com Katsuya Miyahira, o sucessor de Chibana no estilo Shorin da linha Kobayashi em Okinawa. Paralelamente, Yoshihide Shinzato associou-se com o Mestre Katsuyoshi Kanei (falecido em 1993), então presidente da International Okinawa Kobudo Association, procurando complementar o curriculum do Shorin-ryu com as técnicas de lutas com as armas tradicionais de Okinawa...

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Visitas do Mestre Miyahira ao Mestre Shinzato

Miyahira visitou o Brasil em 1977, participando dos festejos do 15º aniversário de fundação da Associação Okinawa Shorin-ryu Karate-Do do Brasil e do 10º aniversário da União Shorin-ryu Karate-Do do Brasil, e em 1991, na comemoração do 20o. aniversário da Associação, ocasião em que fez demonstrações e ministrou cursos de kata para os caratecas brasileiros. Em 1992, Shinzato reuniu uma equipe com os melhores atletas do estilo e participou, em Okinawa, do Uchinanchu Festival, onde fez demonstrações e visitou mestres e academias famosos da ilha.

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A ligação de Mestre Shinzato ao caratê

Quando indagado, Yoshihide Shinzato costuma responder que, para ele, o caratê se resume em: disciplina, responsabilidade, harmonia, humildade e dignidade.

Além disso, informa que, quando chegou ao Brasil, foi muito difícil se estabelecer, mas, segundo uma velha frase de seus antepassados que diz ?três anos sobre a pedra?, atingiu seus objetivos graças ao esforço e à participação de seus alunos, bem como à compreensão do povo brasileiro que o recebeu com muito carinho e entusiasmo.

Com relação à técnica do caratê, Shinzato explica que a prática do kata é a essência da arte. No entanto, a prática dos kihons também deve ser enfatizada para que o aprendizado seja completo, tanto que tem elaborado e sistematizado kihons ao longo de sua vida, tornando o estilo Shorin um dos mais bem fundados neste tópico.

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O livro Kihon

Em 2006, Mestre Shinzato publica um livro onde mostra a sua grande visão sobre o caratê, apresentando o estilo Shorin e registrando para a posteridade os kihons e os katas do estilo que são os seguintes: Naihanchi Shodan, Naihanchi Nidan, Naihanchi Sandan, Pinan Shodan, Pinan Nidan, Pinan Sandan, Pinan Yondan, Pinan Godan, Itossu no Passai, Matsumura no Passai, Kusanku Sho, Kusanku Dai, Chinto, Jion, Gojushiho, Unshu, Teisho, Koryu Passai (estes dois últimos incorporados recentemente pelo Mestre Katsuya Miyahira) e Ryuko (este incorporado recentemente pelo próprio Mestre Shinzato), dos quais destaca como mais importantes os Naihanchi, os Kusanku e os Passai.

Quando perguntado a Shinzato qual o professor de caratê mais importante para o Brasil, ele responde que foi o pioneiro o mestre Harada (do estilo Shotokan), praticamente o primeiro a introduzir a luta no nosso país. Indagando, então, sobre os que ainda estão vivos e atuantes, disse Koji Takamatsu, pelo Wado-ryu, e Juichi Sagara, pelo Shotokan.

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Mestre Shinzato e sua família

Yoshihide Shinzato tem três filhos que também praticam o caratê assiduamente. O mais velho é o único nascido em Okinawa: Masahiro Shinzato, atualmente graduado como 9º Dan e que, até 1999, era o presidente da Federação de Paulista de Karate-do. O seu filho do meio, formado em engenharia aeronáutica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica, Nelson Mitsuhide Shinzato, é 4º Dan. O caçula, Eraldo Kazuo Shinzato, é engenheiro formado pela Universidade Federal de São Carlos e é 1º Dan.

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Shin Shu Kan no exterior

Com o crescente aumento do número de praticantes do Shorin-ryu Karate-Do nos países vizinhos ao Brasil, tais como Uruguai, Argentina e Bolívia, sempre sob a tutela do Mestre Shinzato, os representantes desses países resolveram fundar, em 1991, a International Union Shorin-ryu Karate-Do Federation. Embora na Argentina o Shorin-ryu já estivesse representado pelo Mestre Shoei Miyazato (oitavo Dan), um discípulo direto de Katsuya Miyahira, esse okinawano deixou suas atividades relativas ao caratê por motivos de saúde, fazendo com que Miyahira delegasse ao Mestre Shinzato a coordenação do estilo naquele país. Com a fundação da International Union, Shinzato passou a ter um controle mais organizado das atividades, agora não apenas na Argentina, mas também nos outros países da América do Sul onde se verifica a presença do Shorin-ryu. Existem representantes ainda nos Estados Unidos e na Austrália.

Yoshihide Shinzato espera que este organismo internacional cresça ainda mais nos próximos anos, principalmente agora que o caratê foi oficialmente reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional. Por outro lado, Shinzato já deu os primeiros passos no sentido de registrar o estilo na WKF - World Karate-do Federation (substituta da primeira WUKO - World Union of Karate-do Organizations -, hoje extinta), que é a entidade internacional representante do esporte perante o Comitê Olímpico Internacional. Tal feito, se realizado, deverá trazer um enorme prestígio para o estilo Shorin da linhagem Kobayashi, em nível mundial.

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Homenagens
Cidadão Santista - Câmara Municipal de Santos (23 de junho de 1972)
Medalha Primavera - Sociedade Geográfica Brasileira - São Paulo (1978)
Grã-Cruz - Ordem ao Mérito Municipalista - Sociedade dos Estados Municipalistas - São Paulo (1994)
Defensor de Bens Culturais - Câmara Municipal de São Paulo (31 de março de 2001)
Medalha de Honra ao Mérito - Brás Cubas - Câmara Municipal de Santos (16 de junho de 2001)
8° Dan, pela World Karate Federation (WKF)
9° Dan - Kobu-do Shin Shu Kan
9° Dan, pela Federação Paulista de Karate-do (FPK)
9° Dan, pela Confederação Brasileira de Karate-do (CBK)
10° Dan - Okinawa Shorin-Ryu Karate-do
Comendador do Outono do Governo do Japão

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Ligações externas
Biografia do Mestre Shinzato na Revista Eletrônica Karatedo on-line
Categorias: Mestres de Karatê | Nipo-brasileiros
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Tese de Graduação
Submetida à Banca Examinadora da FKERJ para a Obtenção do 4o. Dan
Antonio Carlos Ramos Troyman
Membro da União Shorin-Ryu Karate-Do do Brasil
Janeiro de 1996

AGRADECIMENTOS

Ao Sensei Yoshihide Shinzato por sua imensa sabedoria no ensino desta arte maravilhosa que tem me incentivado desde o início do meu aprendizado ao longo destes 26 anos e por ter escolhido o meu país para se estabelecer, tornando o Brasil um dos expoentes mundiais nesta arte marcial que considero uma das mais completas expressões do gênero humano em muitos séculos de existência. Ao Prof. Luiz Rodolfo de Aragão Ortiz que tem praticado junto comigo desde o início e com quem tive o imenso prazer de acompanhar o desenvolvimento e a ascensão do nosso estilo no estado do Rio de Janeiro, graças a quem a divulgação criteriosa e o ensino correto e bem calcado em profundos conceitos filosóficos têm feito do Shorin-Ryu um estilo respeitado e bem posicionado no panorama desta modalidade no nosso estado. Ao grande amigo Gilberto Israel pelo enorme incentivo nos treinamentos ao longo destes anos, com quem sempre pude contar desde que veio para o Rio de Janeiro, participando junto comigo desta tarefa grandiosa que é praticar o Karate-Do, em especial o estilo Shorin-Ryu, contribuindo para a elevação deste esporte que já se tornou uma verdadeira religião para todos nós. Aos membros da Diretoria da Federação de Karate do Estado do Rio de Janeiro que, de uma forma ou de outra, têm contribuído para a formação e o desenvolvimento deste esporte, não apenas a nível estadual, mas a nível nacional e internacional, através de uma gestão consciente e responsável em prol da elevação do nível dos atletas e da qualidade do Karate-Do praticado no Rio de Janeiro e no Brasil.

A História de Okinawa

A ilha de Okinawa, a principal do arquipélago conhecido como Ilhas Ryukyu, é hoje parte integrante do Japão moderno. Com uma área de aproximadamente 1.256 km2 , Okinawa tem um comprimento de cerca de 108 km e uma largura que varia de 5 a 24 km. O clima é sub-tropical e sofre a influência da corrente Kuroshio que corre na direção norte desde as Filipinas, trazendo frequentes tufões, geralmente durante os meses de março a setembro. A região norte da ilha é coberta de florestas e pouco povoada, ao contrário da região sul, bastante povoada e tendo experimentado recentemente um grande avanço econômico, onde existem diversas cidades, sendo a principal delas a capital Naha City que engloba hoje os povoados da antiga Naha, Shuri e Tomari, berços do Karate-Do.

Historicamente, no início do século XIV, a ilha de Okinawa, que foi governada por diversos senhores feudais (anji), foi dividida nos três estados de Hokuzan (norte), Chuzan (centro) e Nanzan (sul). Os Três Reinos, como eram conhecidos, foram unificados em 1429 por um líder chamado Sho Hashi que fixou sua capital em Shuri. Algum tempo depois, outro governante, ShoShin (que reinou de 1477 a 1526) aboliu o feudalismo, formou um estado Confucionista, mudou os anji para Shuri e baniu o uso de espadas, tornando ilegal a posse de armas em grande quantidade. O Reino de Ryukyu, como o país ficou conhecido, expandiu-se e prosperou através do comércio com a China (principalmente através de Fuchou na Província de Fukien), com o Sudeste Asiático, com a Coréia e o Japão até 1609, quando foi invadido pelo clã Satsuma de Kagoshima, no sul de Kyushu. A partir de então, embora ainda uma nação comercialmente independente, com estreitas ligações com a China, as ilhas Ryukyu ficaram economicamente dominadas pelo clã Satsuma (ligado ao shogun Tokugawa), diminuindo gradualmente, assim, a sua riqueza.

Satsuma reforçou o banimento das armas imposto pelo rei Sho Shin, proibindo de vez, em 1699, a importação de armas de metal. Em 1724, devido à grande expansão das classes mais abastadas (shizoku) em Shuri, a estes foram permitidos comercializar, fabricar produtos manufaturados e tornar-se fazendeiros pioneiros nos campos ainda não explorados das ilhas. Com isso, muitos destes shizoku emigraram, levando consigo sua cultura. Os demais habitantes permaneceram em um estado de quase escravidão, até o tempo em que o arquipélago foi anexado pelo governo pró-Restauração do Japão em 1879 e o rei Sho Tai foi exilado em Tokyo. A nova dinastia Meiji fez da ilha de Okinawa parte integrante da Prefeitura de Okinawa, tentando japanizar os velhos costumes okinawanos, considerados, até então, estrangeiros. Esta tendência continuou durante as eras Taisho e Showa, à medida que o Japão se tornava cada vez mais militar, terminando apenas com a derrota do Japão no final da 2a. Guerra Mundial.

A ocupação americana das ilhas Ryukyu, que promoveu de certa forma uma revolução social e econômica, começou com a invasão da Batalha de Okinawa pelas forças armadas dos Estados Unidos em 1o. de abril de 1945, e terminou em 15 de maio de 1972 quando o controle político foi devolvido ao Japão, calcado num movimento de esperança por uma nova era de paz e prosperidade.

O Karate em Okinawa

O primeiro advento do karate, ou tode como era então conhecido, é geralmente aceito como tendo ocorrido no final do século XVIII ou no início do século XIX quando um chinês chamado Kusanku (Ku Shanku ou Koso Kun) demonstrou técnicas de boxe chinês a uma audiência maravilhada em Okinawa. To-de (também To-te ou Tuti, significando literalmente mão chinesa) pode ser entendido como ?Boxe Chinês?, embora várias centenas de anos antes fosse antecedido por uma arte marcial conhecida apenas como ti (posteriormente japanizado por te, que significa mão), a qual ainda existe e tem influenciado as técnicas e formas de luta de alguns dos estilos mais modernos do karate. A existência do ti pode ser comprovada desde o século XVII através de um poema escrito por um eminente professor okinawano nascido em 1663 chamado Teijunsoku (também conhecido como Nago Oyakata) e que diz: Não importa o quanto se esmere na arte do ti,
e nos seus esforços escolásticos, nada é mais importante que o seu comportamento e sua humanidade conforme observado no cotidiano da vida.

A história registra ainda a existência de um notável karateka chamado Sakugawa, que viveu em Shuri a cerca de 200 anos atrás e aprendeu o To-te na China e que era comumente conhecido como To-te Sakugawa, evidenciando que ele era um mestre do Boxe Chinês. Este prefixo no seu nome prova que, entre os habitantes das ilhas Ryukyu já existia uma arte marcial única, distinta do To-te, caso contrário ele seria conhecido por Te Sakugawa ao invés de To-te Sakugawa. De uma maneira geral, a introdução do To-de (karate) em Okinawa foi efetuada tanto por okinawanos que foram estudar o Boxe Chinês na China, como por chineses (tais como Kusanku) que vieram ensinar na ilha. Tode começou a ser chamado karate na primeira metade do século XX e, embora a sua introdução tenha sido uma contínua evolução, muito do karate que é ensinado hoje em dia, ao contrário da crença popular, está baseado no Boxe Chinês (principalmente da área de Fuchou) e que foi trazido a Okinawa entre 1850 e 1950, alcançando o seu pico de introdução no final do século XIX.

É necessário apontar aqui que, antes de 1879, as artes marciais em Okinawa eram reservadas apenas às famílias mais nobres, e, mesmo após esta data, poucas pessoas menos favorecidas (fosse de dinheiro, fosse de tradição) tinham capacidade ou ânimo para praticá-las. É difícil encontrar evidências de que okinawanos tenham desenvolvido técnicas de luta devido à proibição do uso de armas pelos governantes do clã Satsuma. Ao contrário, as evidências demonstram que, após 1609, o ti era praticado como defesa pessoal e como meio de desenvolvimento físico pelos membros da nobreza. To-de seguiu um caminho semelhante, desenvolvendo-se no final do século XIX e início do século XX no meio das classes shizoku e seus descendentes, principalmente aqueles que viviam em Naha, Tomari e Shuri. Por esta razão é que surgiram os termos Naha-te, Tomari-te e Shuri-te, os quais se referiam às modalidades praticadas nestas vilas, tornando-se na verdade o próprio karate. Embora o karate hoje em dia seja traduzido (ao pé da letra) como mãos vazias, muitos dos estilos modernos praticados em Okinawa incluem em seus currículos a prática com armas (conhecida como Kobujutsu ou Kobudo).

Como o karate moderno não poder ser classificado segundo essas três categorias (Naha-te, Tomari-te e Shuri-te), seria interessante adotar-se com mais propriedade os termos em acordo com os diversos estilos ou ryu, pelo simples fato desta arte marcial nunca ter sido unificada, a exemplo do que ocorreu com as várias escolas de Jiu-jutsu no Japão, dando origem ao Judo, apesar dos esforços do mestre Gichin Funakoshi, um dos pioneiros a levar o karate para o Japão. Muitos destes estilos receberam nomes após a confusão social que se instalou ao fim da 2a. Guerra Mundial, quando alguns okinawanos perceberam o valor comercial do karate e abriram uma enxurrada de academias. Durante o período da Guerra do Vietnam, Okinawa tornou-se uma importante base militar de suprimentos e o karate tornou-se bastante popular entre os homens de serviço, alguns dos quais levaram a modalidade para os Estados Unidos e outros lugares. Mais tarde, a popularidade do karate de Okinawa cresceu em todo o mundo à medida que os próprios okinawanos passaram a emigrar para o exterior em busca de melhores oportunidades, aproveitando para ensinar esta fascinante e eficiente arte marcial.

De acordo com Mark Bishop [1], os estilos podem ser divididos em três grandes grupos: aqueles baseados completamente no Boxe Chinês, tais como o Goju-ryu, originalmente chamado Shorei-ryu e localmente conhecido como Naha-te; aqueles identificados como Shorin-ryu, considerados como uma mistura do Tomari-te com o Shuri-te, com alguma influência do Goju-ryu; e aqueles onde há a predominância do kobudo ou das antigas modalidades de ti, onde algumas escolas costumam ensinar técnicas de mãos vazias como complemento às técnicas e formas (katas) com as diversas armas usadas nos treinamentos.

Os Estilos Antigos

Conforme já foi apontado, as escolas que surgiram nas vilas de Naha, Tomari e Shuri tinham uma origem comum: o templo Shaolin de Fuchou na Província de Fukien, na China, e os mestres chineses que visitaram Okinawa, ensinando sua arte, a qual foi devidamente mesclada com as técnicas de luta existentes na ilha.

Essas técnicas nativas, segundo Shoshin Nagamine [2], tinham grande predominância do uso dos punhos (seiken), levando alguns dos antigos mestres a fazer adaptações das técnicas de mão aberta, predominantes nos sistemas de luta chineses, de forma a manter as tradições da ilha, produzindo o sentimento comum de um maior apego às origens locais. Este processo foi o principal fator da formação das características do karate moderno. O aprendizado do To-te ou To-de, como era conhecido durante esse período de formação, através da prática dos diversos katas, levaram à segregação de formas quase que estanques entre si. Daí o surgimento das duas grandes escolas: o Shorin-ryu (ou Shuri-te) e o Shorei-ryu (ou Naha-te). O Shorin-ryu desenvolveu-se principalmente nas vilas de Shuri e Tomari e o Shorei-ryu nas vizinhanças de Naha. Muitas das características que diferenciam estas duas escolas têm sido classificadas de pontos de vista geográficos ou de aptidões físicas de seus praticantes. Gichin Funakoshi [3] costumava dizer que o Shorin-ryu possuia movimentos rápidos e leves e, por isso era indicado mais para pessoas magras e de baixa estatura, cujo objetivo era a ação rápida, enquanto que o Shorei-ryu era recomendado a pessoas fortes e grandes. Há quem diga que estas características se formaram porque a região de Shuri era mais montanhosa, favorecendo um maior desenvolvimento das pernas e, consequentemente, maior velocidade dos praticantes, ao passo que nas vizinhanças de Naha, onde predominavam as plantações de arroz, os praticantes costumavam praticar com água pela cintura, favorecendo um maior desenvolvimento das forças toráxicas e dando origem a movimentos mais lentos e mais concentrados.

Shoshin Nagamine discorda um pouco dessas definições, dizendo que diferenças na estatura ou da personalidade do praticante não têm importância nehuma para o karate, preferindo afirmar que a essência do karate reside mais no processo pelo qual o indivíduo se esforça mais para adquirir potência sem limites através do emprego de uma verdadeira sabedoria. Fora os pontos de vista românticos e filosóficos, estes dois grandes estilos estão, na verdade ligados a um objetivo comum que remonta à velha necessidade de auto preservação da própria espécie humana. Pode-se dizer que as diferenças entre essas escolas estão nos movimentos básicos e nos métodos respiratórios empregados. Por exemplo, no Shorin-ryu os movimentos dos pés seguem uma linha reta quando um passo é executado, seja para frente ou para trás. A velocidade e a força dos golpes devem estar bem sicronizados nos movimentos de ataque e defesa, com a respiração controlada naturalmente. As bases são as mais naturais possíveis de forma a não exigir esforços adicionais que venham a desperdiçar a energia desnecessariamente.

No Shorei-ryu os movimentos são caracterizados por bases mais baixas e trajetórias circulares dos pés nos passos para frente e para trás, com respiração artificial forçada de acordo com os movimentos dos braços nos ataques e defesas. Esta escola incorpora de forma mais veemente as característica do Boxe Chinês, tendo sofrido muito pouca influência do ti. Pode-se ainda afirmar que tanto uma como outra escola se influenciaram mutuamente, assim, por exemplo, o Shorei-ryu tem influência do Shorin-ryu e vice-versa, tendo em vista que alguns dos mestres que fundaram suas associações costumavam intercambiar conhecimentos, introduzindo técnicas baseadas nas observações que faziam das modalidades vizinhas (e não poderia ser de outra forma, já que as diversas vilas ficavam muito próximas uma das outras - cerca de 5 a 10 km de distância).

Do Shorei-ryu derivaram os estilos Goju-ryu (com suas ramificações, após ser levado para fora de Okinawa) e Uechi-ryu. Do Shorin-ryu surgiram várias linhas que pouco diferem entre si, a não ser na forma em que incorporaram os diversos katas aprendidos na China ou trazidos pelos estrangeiros à ilha. Nos dias de hoje existem diversas associações que foram fundadas numa combinação dessas duas escolas básicas, como é o caso do Shito-ryu e do próprio Shotokan do mestre Funakoshi. Apesar de tudo, um estilo tem muito das personalidades de seus mestres fundadores, principalmente pela característica de ser uma arte transmitida de pai para filho, dentro da antiga tradição das famílias Shizoku predominante na sociedade okinawana. Hoje em dia esses círculos deixaram de ser familiares, tornando-se mais abrangentes em vista da maior abertura promovida pelo desenvolvimento econômico, onde as academias passaram a aceitar alunos de outras famílias e locais (mesmo de outros países), sendo a tradição muitas vezes passada ao aluno mais antigo e mais proeminente. Estes tornam-se os novos patriarcas do estilo e a eles é, inclusive, permitida a incorporação de novas técnicas (através de novos katas) que, baseados na sua observação ao longo dos anos de prática, passam a fazer parte da cultura da escola, a qual é transmitida a todas as suas ramificações pelo mundo afora. Como diz o próprio Mestre Shoshin Nagamine, baseado em uma velha canção popular de Okinawa, ?Não importa o caminho que se toma para subir a montanha, quando se atinge o topo pode-se apreciar o luar da mesma maneira.?. O objetivo não muda entre os vários estilos, no fundo de suas filosofias eles compartilham o mesmo significado.

Os Estilos Shorin

Conforme apontado anteriormente, o estilo Shorin-ryu, ou melhor dizendo, os estilos do grupo Shorin surgiram dos chamados Shuri-te e Tomari-te, os quais se desenvolveram nas vilas de Shuri e Tomari, respectivamente. Os estilos tiveram praticamente origem em um homem. Pode-se dizer que Sokon Matsumura está para o Shorin-ryu assim como Kanryo Higaonna está para o Shorei-ryu (Goju-ryu). A maioria dos mestres da escola Shorin que deram origem às várias linhas foram alunos de Sokon Matsumura. Dois deles foram os mais proeminentes e a partir deles surgiram os dois grandes ramos do Shorin-ryu: Anko Itosu (1832 - 1916) e Chotoku Kyan (1870 - 1945). Do primeiro surgiram a linha Kobayashi e os estilos Kushin-ryu, Shito-ryu (este com influências de outros mestres do Goju-ryu), Tozan-ryu e Shotokan. Do segundo surgiram as linhas Matsubayashi, Chubu e Ryukyu e os estilos Shorinji-ryu e Isshin-ryu. De uma forma ou de outra, o surgimento destes diversos estilos está ligado a mestres que foram alunos de outros mais antigos e que, até uma dada extensão, tiveram um professor comum ou foram colegas de academias.

A Arte de Sokon Matsumura

Sokon Matsumura (também conhecido por Buseitatsu, Unyu, Bushi Matsumura ou Bucho) nasceu numa bem conhecida família shizoku do vilarejo de Yamagawa, Shuri. Era bem formado escolarmente, um notável mestre da caligrafia oriental e, desde muito cedo, como a maioria dos jovens de Shuri, aprendeu os fundamentos do ti. Mais tarde, diz-se, aprendeu a lutar com o bastão longo (bo) com o mestre Sakugawa (To-de Sakugawa) que tinha, a seu turno, aprendido a arte na China e vivia então no vilarejo de Akata, Shuri.

Tendo trabalhado como guarda-costa de três gerações sucessivas de reis okinawanos (algumas fontes garantem que ele foi também um instrutor da corte), Sokon Matsumura visitou Fuchou e Satsuma como enviado oficial para assuntos de estado. Em Fuchou visitou diversas escolas de Boxe Chinês e estudou sob a égide dos adidos militares Ason e Iwah, tendo, inclusive, a oportunidade de visitar o templo Shaolin de Fukien. Em Satsuma, Matsumura foi iniciado no sistema de esgrima Jigen-ryu pelo Mestre Yashichiro Ijuin.

Após se aposentar, Matsumura ensinou karate num espaço aberto no vilarejo de Sakiyama, Shuri. Seus alunos mais famosos foram: Anko Itosu (1832 - 1916); Anko Asato; Kentsu Yabu (1866 - 1937); Kiyuna Pechin; Chomo Hanashiro; (1869 - 1945); Sakihara Pechin; Gichin Funakoshi (1868 - 1957); Ryosei Kuwae (1853 - ?); Chotoku Kyan (1870 - 1945).

É muito difícil decifrar o temperamento de Matsumura. Segundo Funakoshi [3], Matsumura tinha qualidades sobre-humanas. Segundo uma história contada por Chotoku Kyan, certa ocasião Matsumura tinha deixado uma casa de chá em Tsuji junto com alguns discípulos e, ao retornar para casa, encontraram alguns marinheiros bêbados fazendo arruaça, chingando os passantes, e os alunos, temendo pela segurança do mestre já idoso, sugeriram a Matsumura que alterasse o trajeto para evitar um provável confronto. Entretanto, o velho mestre decidiu que não mudariam o trajeto e, como não poderia deixar de ser, os cinco arruaceiros partiram para cima de Matsumura com uma saraivada de socos e pontapés. Enquanto os discípulos pensavam no que fazer, eles observaram chocados o seu mestre executar um rolamento à guisa de uma bola no meio da estrada, aparentemente sem ser atingido pelo ataque. Ao perceberem que o velho não era um homem comum, os atacantes recuaram, enquanto Matsumura ficava de pé diante deles com o topete desmanchado, pois o grampo de prata que o prendia havia caído próximo aos pés dos marinheiros assustados. Um deles pegou o objeto rapidamente e o entregou a Matsumura com um pedido veemente de desculpas e os cinco viraram nos calcanhares e se foram embora o mais prontamente possível.

As datas de nascimento e morte de Sokon Matsumura não são muito precisas. Segundo Shoshin Nagamine, em 1897 houve uma festa de comemoração dos seus 88 anos, o que leva à conclusão de que Matsumura tenha nascido em 1809. Katsuya Miyahira (da linha Kobayashi) e outros mestres afirmam que Matsumura morreu aos 92 anos, o que permite concluir que tenha morrido aproximadamente em 1901. Documentos e cartas deixados por Matsumura constatam o tipo de mentalidade da época. Uma carta escrita para seu pupilo Ryosei Kuwae tem sido publicada frequentemente em japonês e foi traduzida para o inglês pela primeira vez por Mark Bishop [1] e o seu conteúdo é o seguinte:

Se você pretende praticar artes marciais, você deve conhecer o verdadeiro significado delas, logo, resolvi colocar alguns pontos; por favor, examine-os atentamente.

Assim, a maneira de aprender e a maneira de lutar têm um único propósito. Existem respectivamente três formas de aprender e de lutar. As três formas de aprender são as seguintes:

1. leitura, escrita e aritmética - os três R?s
2. exegética
3. o estudo do Confucionismo.

Os três R?s incluem caligrafia, composição de sentenças a partir de palavras e ser capaz de calcular o total do estipêndio de arroz requerido por pessoas importantes. Exegética é ensinar às pessoas o sentido do dever apurado através dos clássicos chineses, tendo o meio do profundo conhecimento e do ensino como exemplos. Ambas as escolas primárias de aprendizado são distintas sendo apenas artes literárias, entretanto, o aprendizado do Confucionismo leva à sinceridade, pureza de coração e o senso de propriedade de todas as coisas. Dessa forma, o bom governo de um lar (e mesmo de um país) resultará em paz mundial.

Isto é verdadeiro conhecimento, verdadeiro Confucionismo. Os três tipos de artes de luta são:

1. aqueles dos instrutores da corte
2. estilos nomeados
3. as verdadeiras artes de luta.

Os estilos dos instrutores da corte são praticados de maneira pouco usual; os movimentos nunca são os mesmos, sem forma e leves, tornando-se (como que femininos) mais e mais parecidos com uma dança conforme a maturidade dos proponentes. Os expoentes dos estilos nomeados não praticam regularmente, eles vão e vêm aqui e ali, imaginando como vencer, discutindo com pessoas talvez difíceis de se convencer. O pior de tudo é que eles causam danos ao corpo, envergonhando seus pais e familiares. Com as verdadeiras artes de luta você não se distrai, assim imagina uma busca, governa seu próprio coração e espera pelo transtorno do seu inimigo; se aquieta e espera que o inimigo fique agitado; arrebate o coração do inimigo e o conquistará. À medida que sua proficiência aumenta obterá distinção, você será capaz de tudo, não será desorientado, saberá o lugar da piedade filial. O espírito de um tigre feroz e a velocidade de um gaivão voador se desenvolverão naturalmente de forma que você será capaz de se sobrepor a qualquer agressor.

Um sábio escreveu no Chudokansha as seguintes chamadas ?Sete Virtudes Marciais?: Artistas marciais estão proibidos de agir desregradamente; soldados devem praticar a repreensão, ajudar as pessoas, se distinguirem e salvaguardar o povo de forma que a população possa viver em paz e ter fortuna abundante. Logo, no aprendizado das artes de luta está o caminho da verdade. Os estilos dos instrutores da corte e nomeados são inúteis, então considere as verdadeiras artes de luta cuidadosamente. Creio que possas agarrar a oportunidade de agir de acordo com a restrição, de tal forma que se você praticar com os pontos prévios em mente, já foi dito que o abdômem inferior se tornará o armazém da sua energia. A arte marcial original de Sokon Matsumura foi mantida inalterada por discípulos como Nabe Matsumura (neto de Sokon) e seus alunos, dentre os quais destaca-se Hohan Soken (sobrinho de Nabe), fundador de uma academia onde é praticado o chamado Shorin-ryu Ortodoxo de Matsumura. Neste estilo são praticadas técnicas de diversas armas de kobudo (em especial o kama - foice, e o sai - pequenos tridentes de ferro com o estilete central mais longo ) e os katas Naihanchi Shodan, Naihanchi Nidan, Naihanchi Sandan, Pinan Shodan, Pinan Nidan, Passai Sho, Passai Dai, Chinto, Kusanku, Gojushiho, Sesan, Rohai Jo, Rohai Chu, Rohai Ge e Hakutsuru (Garça Branca), este último executado nos velhos tempos sobre uma prancha de madeira com apenas 30 cm de largura estendida sobre as bordas de um tanque de criação de peixes. Hohan Soken emigrou para a Argentina em 1920, onde trabalhou como colono em fazendas, e retornou a Okinawa em 1952, quando começou a ensinar karate. Em 1989, devido à idade avançada, Hohan Soken já não ensinava mais, a não ser a alguns alunos mais antigos, e o estilo passou a ser ministrado por quatro de seus alunos: Seiki Arakaki, Mitsuo Inoue, Jushin Kohama e Hideo Nakazato, que formaram a Associação Matsumura de Shorin-Ryu Karate-Do, sendo seu presidente Seiki Arakaki, embora Hohan Soken não admita esta liderança, uma vez que, na opinião de Soken, os katas praticados por Arakaki são um pouco diferentes dos originais de Matsumura. Ocorre que, como a maioria dos jovens de Okinawa do período anterior à guerra, Seiki Arakaki estudou o karate de Anko Itosu com diversos outros mestres enquanto estava na escola.

Como já foi mencionado, Sokon Matsumura teve muitos alunos mas os que mais se destacaram, dando origem a linhagens de estilo que se preservaram até os dias de hoje foram Anko Itosu e Chotoku Kyan. Este dois grandes mestres deram origem a dois grandes ramos dos chamados estilos do grupo Shorin. No entanto, vale mencionar aqui que o seu aluno Anko Asato também contribuiu de forma significativa para a formação do karate moderno. Este grande mestre foi, junto com seu homônimo Anko Itosu, um dos instrutores do Grão Mestre Gichin Funakoshi que levou a luta para o Japão, criando o estilo Shotokan (nome da academia fundada por Funakoshi, cujo apelido era Shoto) e que se tornou um dos estilos mais difundudos a nível mundial.

Os Dois Grandes Ramos

Anko Itosu e Chotoku Kyan foram os grandes precursores do estilo Shorin-ryu como ele é conhecido atualmente. Tendo aprendido karate do mestre Sokon Matsumura, estes mestres o transmitiram a seus discípulos sem alterar a essência, embora com pequenas diferenças. Cada um levou à criação de linhas que deram origem a organizações locais e internacionais. Chotoku Kyan teve um número menor de alunos que Anko Itosu, mas não menos proeminentes. As linhas mais difundidas são a Matsubayashi e a Kobayashi (os caracteres kanji que representam esses nomes têm a mesma pronúncia - shorin - mas são diferentes). A seguir serão apresentados os mestres de cada uma dessas linhas, com seus alunos e suas técnicas principais, mostrando as suas ramificações que se extendem até às Américas, incluindo principalmente os Estados Unidos e o Brasil.

A Linha Matsubayashi

A linha Matsubayashi (que ao pé da letra significa ?bosque de pinheiros?) foi fundada pelo Grão Mestre Shoshin Nagamine que conferiu o nome ao estilo por volta de 1947, em homenagem aos mestres Kosaku Matsumora (um antigo praticante de Tomari-te e que também ministrou aulas a Gichin Funakoshi) e Sokon Matsumura.

Tendo sido aluno direto de Chotoku Kyan, Nagamine é bastante conhecido e reverenciado em Okinawa. A seguir serão apresentados alguns dados destes mestres tão importantes para o karate de Okinawa.

Chotoku Kyan
O pai de Chotoku Kyan, Chofu Kyan, foi mordomo do último rei de Okinawa, Sho Tai, e o acompanhou quando o rei foi exilado para Tokyo. O jovem Chotoku também empreendeu essa viagem para Tokyo, onde recebeu a maior parte de sua educação acadêmica e, mais tarde, após retornar a Okinawa, aprendeu karate de vários professores aos quais fora apresentado por seu pai, aprendendo os katas:

Sesan, Naihanchi e Gojushiho (de Sokon Matsumura - Shuri-te)
Kusanku (de Yara Chatan - Shuri-te, que imigrou de Shuri para se estabelecer no vilarejo de Yomitan)
Passai (de Kokan Oyadomari - Tomari-te)
Wanshu (de Maeda Pechin, um aluno de Kosaku Matsumora - Tomari-te)
Chinto (de Kosaku Matsumora - Tomari-te)
Ananku (de um chinês de Taiwan que visitou Okinawa na época - há quem diga que Kyan trouxe este kata de uma viagem que fez a Taiwan)
Tokumine no Kun (de Tokumine Pechin, de Yaeyama - kata de bo)

Chotoku Kyan era um homem de pequena estatura, magro e tinha o apelido de Chan-Mi-gwa ( ?Pequenos Olhos?) devido a um permanente estrabismo. Na sua vida adulta, Kyan foi muito pobre, porém diz-se que costumava frequentar os bordéis de Tsuji e gostava muito de viajar. Para levantar dinheiro para essas atividades Kyan usava diversos meios; uma vez sua esposa comprou uma porca e, toda vez que esta dava à luz, vendia os bacorinhos por quantias acima do combinado com a esposa, ficando com a diferença para si. Kyan era tido também como asmático e passava longas temporadas de cama. Dois de seus alunos mais indisciplinados, Ankichi Arakaki (que também ensinou Shoshin Nagamine) e Taro Shimabuku sempre o acompanhavam em suas viagens. Uma ocasião eles foram numa viagem de artes marciais na ilha de Hokkaido, no norte do Japão, anunciando que aceitariam qualquer desafio. Durante tais disputas Kyan sempre aconselhava os discípulos a nocautear os oponentes sempre que estes os empurrassem para os limites da arena. Quando visitava Tsuji, Kyan ensinou seu dois discípulos que apenas a prática do karate sozinha não era suficiente e que eles deveriam participar de festivais de bebedeira e se associar com prostitutas para completar o treino em artes marciais ! Kyan adorava brigas de galos e frequentemente levava seus dois alunos às rinhas nas vilas vizinhas. Durante essas visitas às rinhas, onde muitos jovens se juntavam para apostar, Arakaki e Shimabuku, para testar a resistência do seu professor, provocavam brigas e saiam de fininho. Kyan, então, ainda com o seu galo preferido debaixo do braço, enfrentava os atacantes, derrotando-os apenas com o braço livre, para deleite dos alunos que ficavam observando às escondidas.
Chotoku Kyan ensinava karate em sua casa próximo à Ponte Hija, no bairro de Yomitan. Mais tarde, tornou-se instrutor da Escola de Agricultura da Prefeitura de Okinawa e da Academia de Polícia de Kadena. Entre seu alunos contam-se Joen Nakazato, Shoshin Nagamine, Zenryo Shimabukuru, Tatsuo Shimabuku e Eizo Shimabuku. Ãs vezes fazia demonstrações de karate com Choshin Chibana (aluno de Anko Itosu) e, em 1942, na abertura do dojo de Shoshin Nagamine, fez uma apresentação da sua arte para o Almirante Kenwa Kanna. Em 1943, Kyan e três de seus alunos fizeram uma demonstração nas escolas primárias de Motobu e Nakijin em prol de elevar o moral das famílias que haviam perdido seus filhos na guerra. Nessa ocasião Kyan tinha 73 anos e encantou a platéia quebrando algumas tábuas. Mas sempre negou que fosse capaz de descascar o tronco de um pinheiro com as mão nuas porque, como costumava dizer, ?a pele das mãos é muito fina?. Kyan ensinava uma adaptação do punho estendido que, como dizia a seus alunos, deveria ser usado contra oponentes mais altos. Apesar da sua baixa estatura, Kyan nunca foi derrotado em todos os desafios de que participou, porque sempre usava táticas de evasão (sabaki). Costumava ensinar a seus discípulos que, se dois arbustos novos de carvalho fossem golpeados juntos, apenas a casca seria danificada, mas, que se dois ovos frescos fossem rolados juntos, ambos se quebrariam. ?Não há nada mais assustador que o karate,?, dizia, ?assim especialistas não tentam lutar?. Chotoku Kyan sobreviveu ao holocausto da Batalha de Okinawa, mas morreu pouco tempo depois na região norte da ilha de cansaço e má nutrição, aos 76 anos de idade.

Shoshin Nagamine
O fundador do estilo Matsubayashi-ryu, Shoshin Nagamine, é um dos poucos okinawanos que escreveram consideravelmente sobre o karate. No seu excelente livro, The Essence of Okinawan Karate-do [2], Nagamine apresenta uma descrição histórica e técnica completa do estilo, bem como os seus conceitos em relação ao karate de competição. Filho de um fazendeiro, Nagamine tinha problemas de saúde durante a infância, mas, a partir dos 17 anos de idade, começou a treinar karate com Chojin Kuba, um mestre de Tomari-te, e sua saúde foi gradualmente melhorando. A seguir, Nagamine aprendeu karate com os alunos de Chotoku Kyan, Ankichi Arakaki e Taro Shimabuku, ao mesmo tempo em que praticava Tomari-te com o mestre Kodatsu Iha.

Em 1928 Shoshin Nagamine foi enviado à China para prestar o serviço militar. Em 1931, depois de retornar a Okinawa, entrou para a força policial, sendo indicado para a Academia de Polícia de Kadena por 4 anos, onde recebeu instruções de karate, diretamente de Chotoku Kyan. Enquanto estudava na Academia metropolitana de Tokyo, em 1936, Nagamine teve a oportunidade de aprender luta prática com Chokki Motobu; também conheceu os alunos de Sokon Matsumura e Anko Itosu, Chomo Hanashiro e Kentsu Yabu, que o avisaram de que os katas de karate em Tokyo tinham mudado de forma considerável e de que teria um penoso trabalho para ensiná-los na sua forma original.

Mais tarde, em 1940, Nagamine recebeu o título de Renshi (sob recomendação de Chojun Miyagi - um dos fundadores do estilo Goju-ryu) e o 3o. Dan em kendo no festival Japonês de Artes Marciais realizado em Kyoto. Em 1941 elaborou o kata Fukyu Ichi, com o propósito de ensinar o karate à crianças em idade escolar, e, em 1942, abriu seu primeiro dojo em Tomari. Após a Batalha de Okinawa, Nagamine sentiu a necessidade de ajudar a juventude desanimada da ilha e decidiu construir outro dojo (tendo o primeiro sido destruído) mas, em 1951, antes de realizar o seu sonho, foi promovido a superintendente de polícia e tornou-se chefe de delegacia de polícia em Motobu, no norte de Okinawa. No ano seguinte, treinou o time de judo que venceu o Torneio de Okinawa, então, em 1953, aposentou-se da força policial e construiu o seu atual ginásio, chamado The Kodokan (originalmente Kodokan Karate-Do e Kobujutsu Dojo), em Naha.

Na formação da Federação de Karate de Okinawa (uma organização tipo guarda-chuva) que originalmente incluia os estilos: Goju-ryu, Uechi-ryu, Shorin-ryu (Kobayashi) e Matsubayashi-ryu) em maio de 1956, Nagamine tornou-se o primeiro vice-presidente da entidade e, mais tarde, um conselheiro. Em 1969 começou a estudar na escola de Zen-Budismo Myoshinji com o monge Kensei Okamoto, e na Escola de Budismo Enkakuji com o monge Sogen Sakiyama e, a partir de então tem sempre incluído a meditação Zen como parte integral do Matsubayashi-ryu.

O Matsubayashi-ryu (cuja pronúncia alternativa é também Shorin-ryu) foi assim nomeado em 1947 por Shoshin Nagamine, em honra de Kosaku Matsumora e Sokon Matsumura cujos ensinamentos influenciaram profundamente o estilo. A linha Matsubayashi contém 18 katas: Fukyu-Ichi, Fukyu-Ni (ou Gekisai-Ichi), Pinan Shodan, Pinan Nidan, Pinan Sandan, Pinan Yondan, Pinan Godan, Naihanchi Shodan, Naihanchi Nidan, Naihanchi Sandan, Ananku, Wankan, Rohai, Wanshu, Passai, Gojushiho, Chinto e Kusanku; bem como as seguintes cinco armas de kobudo: bo, nunchaku, tuifa, sai e kama (o kama - foice - é, por óbvias razões, ensinado apenas aoss detentores da faixa preta - Yudansha).

Mesmo nos dias de hoje, Nagamine ministra aulas pela manhã (de 7:30 h às 9:00 h) e à tarde (de 14:30 h às 16:00 h). Seu filho, Takayoshi Nagamine, dá aulas no horário mais popular de 18:30 h às 20:30 h, mas esteve alguns anos ensinando nos Estados Unidos, em Ohio, onde deixou ramificaçòes do estilo.

A Linha Kobayashi

A grande linha Kobayashi desenvolveu-se a partir dos principais discípulos de Anko Itosu e representa o ramo que mais tem praticantes em Okinawa e nas Américas. Este nome representa a leitura alternativa dos caracteres Shorin-ryu que é a pronúncia japonesa da palavra chinesa Shaolin (ao pé-da-letra ?pequeno bosque?). A seguir serão apresentados dados referentes aos grandes mestres precursores deste estilo.Anko Itosu.

Anko Itosu nasceu em 1832 no vilarejo de Yamagawa, Shuri, e estudou karate desde muito jovem com Sokon Matsumura. Bem versado, tanto nos Clássicos Chinêses quanto nos Japonêses, tornou-se secretário (escriba) do último rei de Okinawa, Sho Tai, até que a monarquia foi extinta em 1879. Informações concernentes aos seus próximos 20 anos são vagas, mas, segundo Katsuya Miyahira, durante esse período Itosu aprendeu karate com Gusukuma Shiroma de Tomari e de um chinês que também vivia em Tomari. Mais tarde, Itosu simplificou o kata Naihanchi de Matsumura, desenvolveu o soco chinês tipo saca-rolha na sua forma atual e criou os katas Pinan Shodan, Pinan Nidan, Pinan Sandan, Pinan Yondan e Pinan Godan, a partir do kata Kusanku, que considerava muito difícil para os principiantes. Há quem diga que esses katas foram criados a partir de um outro kata que Itosu havia aprendido de um chinês chamado Chiang Nan que vivia em Okinawa naquela época, adotando os nomes Pinan porque achava que o nome Chiang Nan era muito difícil de pronunciar.

Esses katas tornaram-se os Heian de Gichin Funakoshi do estilo Shotokan, em Tokyo. Itosu também aprendeu o kata Chinto de um mestre chamado Nakahara.
Em abril de 1901 Itosu introduziu o karate na Escola Primária Jinjo de Shuri, como parte do currículo de treinamento físico. Como, a princípio, o karate era considerado arriscado para crianças, Itosu procurou remover algumas técnicas perigosas e simplificar alguns katas e kihons, criando sequências de ataque-defesa. Em 1905 Itosu tornou-se professor de karate do Colégio Municipal Dai Ichi e do Colégio Municipal de Trinamento de Professores. Três anos depois escreveu uma carta para o Departamento Municipal de Educação que dizia respeito à introdução do karate em todas as escolas de Okinawa, o que mais tarde se espalhou por todas as escolas do Japão, representando um papel essencial no programa de doutrinação militar do país. A carta dizia o seguinte:
To-de não se desenvolveu a partir do Budismo ou do Confucionismo. Em passado recente, Shorin-ryu e Shorei-ryu foram trazidos da China. Ambos têm pontos fortes semelhantes, de forma que, antes que ocorram muitas mudanças, gostaria de colocá-las em pauta.

1. To-de é, antes de mais nada, para o benefício da saúde. Para proteger os pais ou seus professores, é apropriado atacar um inimigo apesar do risco de vida. Nunca ataque um adversário só. Se se encontra um vilão ou rufião não se deve usar o To-de, mas simplesmente se defender e dar um passo para o lado.
2. O propósito do To-de é fazer o corpo rígido como pedras e ferro; mãos e pés devem ser usados como pontas de flechas; o coração (espírito) deve ser forte e valente. Se as crianças tiverem que praticar o To-de desde os seus dias de escola primária elas estarão bem preparadas para o serviço militar. Quando Wellington e Napoleão se encontraram, eles discutiram sobre a idéia de que ?a vitória de amanhã virá dos pátios de recreio?.
3. To-de não pode ser aprendido rapidamente. Como um touro lento que se movimenta, que eventualmente caminha milhares de milhas, se se estuda seriamente todos os dias, em três ou quatro anos se compreenderá o que significa o To-de. A estrutura óssea final mudará.
Aqueles que estudam como segue descobrirão a essência do To-de:
4. No To-de as mãos e os pés são importantes, de forma que eles precisam ser completamente treinados no makiwara. Assim fazendo, abaixe os ombros, encha os pulmões, mantenha sua resistência, agarre o solo com os artelhos e concentre sua energia intrínsica na região baixa do abdômem. Pratique com cada braço uma ou duas centenas de vezes.
5. Quando praticando as bases do To-de, certifique-se de que suas costas estejam retas, abaixe os ombros, mantenha a resistência, dirigindo-a para suas pernas, apoie-se firmemente e coloque sua energia intrínseca na região baixa do abdômem, cujo topo e fundo devem ser mantidos apertados.
6. As tecnicas externas do To-de devem ser praticadas, uma a uma, muitas vezes. Devido a essas técnicas serem passadas adiante de boca, tenha o trabalho de aprender as explicações e decida quando e em que contexto seria possível usá-las. Vá fundo, contra, relaxe; é a regra do Torite (literalmente, ?mãos relaxadas?).
7. Você deve decidir se To-de é para cultivar a saúde ou para melhorar seu dever.
8. Durante a prática você deve se imaginar num campo de batalha. Quando bloqueando e atacando faça seus olhos brilharem, abaixe os ombros e endureça o corpo. Agora bloqueie o soco do inimigo e ataque ! Sempre pratique com este espírito, tal que, quando num campo de batalha real, você estará naturalmente preparado.
9. Não se esforce em demasia durante a prática porque a energia intrínsica aumentará, suas faces e seus olhos ficarão vermelhos e seu corpo ficará sentido. Seja cuidadoso.
10. No passado, muitos dos que dominavam o To-de viveram até uma idade avançada. Isto é porque o To-de ajuda no desenvolvimento dos ossos e dos tendões, auxilia os orgãos digestivos e é bom para a circulação do sangue. Logo, de agora em diante To-de deve se tornar o fundamento de todos as lições esportivas da escola primária em diante. Se isto for colocado em prática, creio que muitos homens poderão vencer até cem agressores.
A razão de todas estas afirmações é que , na minha opinião, todos os alunos do Colégio Municipal de Treinamento de Professores devem praticar o To-de, de forma que, quando se graduarem a partir daqui, eles possam ensinar seus alunos nas escolas exatamente como eu os ensinei. Dentro de dez anos To-de se espalhará por toda Okinawa e para a terra principal do Japão. Isto se tornará um bem para a nossa sociedade militarista. Espero que estudem carinhosamente as palavras que aqui escrevi.
Anko Itosu, ano 41 da Era Meiji, Ano do Macaco (outubro de 1908)

Os motivos de Itosu eram óbvios, mas é duvidoso que ele pudesse envisionar a monstruosa resistência que o militarismo japonês adquiriu, ou os anos de sofrimento e devastação que seu povo e sua pátria sofreram devido a esse militarismo.

Investigando o caráter de Itosu, descobre-se que ele foi uma espécie de figura paterna para os seus alunos, enquanto que, fisicamente, possuia um peito largo como um barril, tinha uma longa barba e possuia uma grande força interior. Itosu era imensamente cauteloso, reservado e mantinha em seu dojo em Kubagawa uma disciplina espartana. Dentre seus amigos, Anko Asato (um mestre de ti e brilhante espadachim) achava que as mãos e os pés deviam ser como lâminas e que o contato com o oponente devia ser evitado a qualquer custo. Itosu, no entanto, achava que o corpo não precisava ser tão móvel, mas capaz de absorver os mais duros golpes. Choshin Chibana costumava dizer que Itosu tinha um soco muito potente, mas que Sokon Matsumura falava para ele que, apesar de ter um soco poderoso, não era capaz de atingí-lo.

Anko Itosu faleceu em 1916 aos 85 anos, mas deixou para trás uma impressionante lista de discípulos que, a seu tempo, realizaram o seu sonho. Dentre os nomes mais famosos estão: Kentsu Yabu (1866 - 1937); Gichin Funakoshi (1868 - 1957); Chomo Hanashiro (1869 - 1945); Choshin Chibana (1885 - 1969) - fundador da linha Kobayashi; Kenwa Mabuni (1889 - 1952) - fundador do estilo Shito-ryu.

Choshin Chibana

Dos alunos de Anko Itosu, Gichin Funakoshi é provavelmente o mais conhecido na terra principal do Japão, onde fez muito para popularizar o seu estilo Shotokan, encorajando a sua propagação em todo o mundo. Em Okinawa, Choshin Chibana ensinou o karate de Itosu com muita energia, conferindo o nome Shorin-ryu em 1935, adotando os caracteres chineses que significam ?pequeno bosque?, os quais têm como pronúncia alternativa a palavra Kobayashi e são os mesmos da palavra chinesa Shaolin.

Muitas fontes afirmam que Chibana era nativo do vilarejo de Torihori, Shuri, onde nasceu no dia 5 de junho de 1885, e que iniciou seu treinamento de karate aos 13 anos de idade (após ter sido encorajado por duas vezes a desistir) sob a tutela do Mestre Anko Itosu (seu único professor), com quem permaneceu durante 13 anos. Aos 34 anos, Chibana estabeleceu um dojo em Torihori e ensinou o karate de Itosu praticamente sem alteração. Mais tarde mudou esta academia para o vilarejo de Komoji, Naha e, em 1929, mudou a escola para o Paço do Barão Nakijin na vila de Gibo, Shuri, chamando o dojo de Tode Kenkyu Sho (Clube de Pesquisas do To-de).

Após a batalha de Okinawa, Chibana encontrava-se na Península Chinen, onde ensinou karate até 1948, antes de retornar a Shuri e reabrir uma academia em Gibo. Posteriormente abriu clubes consecutivamente em Jiku, Asato, Sakayamachi, Mihara (todos em Naha) e na vila de Yamagawa, Shuri, mudando de um lugar para outro.

De 1954 a 1958 Choshin Chibana foi empregado como instrutor de karate na delegacia de polícia de Shuri, tendo recebido o tão cobiçado 10o. Dan em 1957. Em maio de 1956, na formação da Federação de Karate de Okinawa (da qual foi membro fundador), Chibana tornou-se seu primeiro presidente. Dois anos depois passou o cargo e fundou a Associação Okinawa Shorin-ryu Karate-Do, sendo seu primeiro presidente. Em 1960, Chibana recebeu do Okinawa Times Shinbun o Prêmio de Distintos Serviços à Cultura Física e, em 1968, foi condecorado com a Ordem Kunyonto do Sagrado Tesouro pelo Imperador Hiroito. Durante sua vida, Choshin Chibana fez muitas demonstrações de karate, e, na sua última em 1968, dançou para uma deliciada platéia. Faleceu de cancer facial, no dia 26 de fevereiro de 1969, do qual já vinha sofrendo a algum tempo.

Segundo depoimentos de Katsuya Miyahira, Choshin Chibana acreditava que, por ser o karate uma arte marcial, este não podia ser ensinado como um esporte ou como um mero exercício físico. ?Durante a prática,? costumava dizer, ?deve-se esquecer de tudo e capturar a energia espiritual de forma que a cabeça, os olhos, as mãos e os pés fiquem unidos; os dedos e os artelhos devem ser como arpões tal que mesmo o mais simples dos socos ou dos chutes sejam mortais. Atingir este objetivo requer tempo e prática insistente; exageros apenas resultam em ferimentos.? Miyahira diz que Chibana acreditava que deve-se adaptar e desenvolver formas que se adaptem a própria forma física e ao temperamento. Quando jovem, Chibana queria ser o mais forte e mais famoso karate-ka de todos os tempos e foi este espírito que o fez chegar aos 80 anos de idade. ?Ao envelhecer,? dizia, ?o corpo fica mais forte, mas ao chegar aos 50 ou 60 anos, deve-se moderar nos treinamentos; então uma espécie diferente de força se desenvolve.?

Chibana revelou a Mark Bishop [1] que seus princípios secretos mais importantes foram:

1.entender os katas e medir o aproveitamento físico de forma que após muitas repetições a força normal se desenvolve
2.em artes marciais a velocidade é essencial
3.com a prática dos katas de karate a percepção fica mais aguda e os golpes mais potentes.
Choshin Chibana, junto com seu Mestre Anko Itosu, introduziu muitas inovações no karate e teve mais de 5000 alunos, entre os quais vários estão espalhados pelo mundo, sendo o mais conhecido, e talvez o mais importante fora de Okinawa, o Mestre Yoshihide Shinzato, 9o. Dan, fundador da União Shorin-ryu Karate-Do do Brasil e da International Union Shorin-ryu Karate-Do Federation, entidade que abriga as mais importantes federações da linha Kobayashi do estilo Shorin-ryu no mundo todo.

Katsuya Miyahira

Com a morte de Choshin Chibana, Katsuya Miyahira tornou-se o presidente da Associação Shorin-ryu Karate-Do de Okinawa. Tendo nascido a 16 de agosto de 1923, aos 15 anos ingressou no dojo do Mestre Choshin Chibana, enquanto estudava na Escola Municipal Número Um de Okinawa (hoje Escola Superior de Shuri). Estudou karate também com o instrutor da escola, Anbun Tokuda que, como Chibana, tinha sido discípulo de Anko Itosu. Enquanto trabalhava em Naha, Miyahira teve a oportunidade de treinar o combate livre com Chokki Motobu que estava nessa ocasião numa de suas viagens de retorno de Osaka, no Japão principal. Segundo Miyahira, o dojo de Motobu ficava no vilarejo de Makishi, Naha e lá os alunos praticavam ao ar livre sobre um chão de terra batida e de pés descalços.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Miyahira trabalhou como professor em escolas na Manchuria onde também ensinava defesa-pessoal. Após a guerra, retornou a Okinawa e ensinou karate no jardim de sua casa no vilarejo de Kaneku em Nishihara, auxiliando o Mestre Chibana em Asato. Em 1948, Miyahira mudou-se para Tsuboya, em Naha, inaugurando a sua primeira academia em Goeku (Koza), ao mesmo tempo que ensinava karate duas vezes por semana durante o dia na Universidade de Okinawa, em Shuri. Em Goeku, Katsuya Miyahira ensinou karate a muitos militares americanos que serviam na base, embora, segundo o próprio Mestre, ?... muitos desistiam com o passar do tempo.?

Em 1956, Miyahira construiu um dojo todo em madeira (ao qual deu o nome de Shidokan) atrás de sua residência em Tsuboya, onde tem ensinado karate desde então. Em 1958, recebeu o diploma Kyoshigo, que significa ?o que sabe ensinar?, por seu trabalho de divulgação do karate nas escolas e universidades. Em sua academia, Katsuya Miyahira ensina os katas: Naihanchi Shodan, Naihanchi Nidan, Naihanchi Sandan, Pinan Shodan, Pinan Nidan, Pinan Sandan, Pinan Godan, Passai Sho, Kusanku Sho, Passai Dai, Kussanku Dai, Chinto, Jion, Gojushiho, Wankan, Wanshu e Seisan. Recentemente, utilizando uma prerrogativa de sua graduação (10o. Dan), incorporou ao estilo dois novos katas por ele elaborados, fruto de intensas pesquisas ao longo de sua vida de karate-ka: o Teisho e o Kuryu Passai. Em Okinawa, tendo mais de 200 alunos graduados com a faixa-preta 1o. Dan, Miyahira tem ramificações de sua Associação em diversas partes do mundo, as quais visita de tempos em tempos. Em 1966 viajou para Manila, nas Filipinas, para fundar novos centros de ensino do Shorin-ryu. Na Austrália possui filiais e, na América do Sul, um aluno seu, chamado Shoei Miyazato, fundou um dojo (também denominado Shidokan), na Argentina. No Brasil, Yoshihide Shinzato, discípulo de Choshin Chibana, também é muito ligado a Miyahira.

Miyahira costuma dizer que, nos velhos tempos, era hábito os alunos visitarem vários mestres de karate, de forma a aprender as técnicas especiais de cada um e os katas nos quais eram mais proficientes, mas que, nos dias de hoje, esta prática, infelizmente, não é mais utilizada. Segundo Miyahira, os ensinamentos de Chibana incluiam bastante o trabalho com o makiwara, o qual era construído pelos próprios alunos, serrando pela metade uma tábua grossa de madeira shiza na direção diagonal longitudinal. Dizia, ainda, que Chibana era pequeno e leve (tinha apenas 1,62 metros de altura), mas que, no entanto, sua resistência física era fenomenal. Isto era resultado do desenvolvimento do ki (o qual reside no tandem - baixo abdômem) obtido através do treinamento constante do karate.

O Estilo Shorin no Brasil

O estilo Shorin chegou ao Brasil com a vinda do Mestre Yoshihide Shinzato em 1954, quando este okinawano resolveu emigrar a convite de um tio que já vivia neste país. No início, Shinzato praticou o estilo que aprendera com Choshin Chibana junto com o estilo Goju que aprendeu com outro imigrante de Okinawa, Shikan Akamine. Mais tarde, com a fundação da União Shorin-ryu Karate-Do do Brasil, Shinzato passou a ensinar apenas o estilo Shorin. Esta União tem tido uma grande força devido principalmente ao espírito de liderança de Yoshihide Shinzato, sendo uma das organizações de karate mais coesas e bem organizadas do Brasil, mantendo uma profunda homogeneidade no curriculum de suas academias filiadas. Hoje em dia, apesar da intensa luta política que existe no Brasil neste meio, o Shorin-ryu é reconhecido e respeitado nos principais centros do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, sendo parte integrante das organizações que regem a modalidade, tais como as Federações de Karate do Estado de São Paulo (onde Masahiro Shinzato, filho de Yoshihide Shinzato já foi presidente) e do Rio de Janeiro, e da Confederação Brasileira de Karate (onde Shinzato é membro do Conselho de Graduação). Há 34 anos no Brasil, o estilo Shorin, pode-se afirmar, é um dos mais antigos a serem ensinados, junto com o Shotokan, trazido pelo pioneiro Harada para São Paulo. A história do karate brasileiro, em especial o estilo Shorin, confunde-se com a própria história da vida de Yoshihide Shinzato, um dos maiores karatekas do Brasil, da América do Sul e, porque não dizer, do mundo.

Yoshihide Shinzato

Nascido em 15 de março de 1927 na aldeia de Haebaru, Shuri, em Okinawa, Yoshihide Shinzato começou a praticar Karate aos 12 anos de idade, na escola (curso ginasial) com Anbun Tokuda (1886-1945), contemporâneo de Choshin Chibana e, como este, discípulo do Grão-Mestre Anko Itosu. Após completar os estudos, Shinzato entrou para a academia do renomado Mestre Choshin Chibana. Durante a Segunda Guerra Mundial, Shinzato serviu no exército japonês como rádio-telegrafista, em Tokyo, retornando ao fim da guerra a Okinawa, onde retomou os treinamentos com Chibana. Devido às grandes dificuldades decorrentes do período pós-guerra, Shinzato resolveu aceitar o convite de um tio que havia emigrado para o Brasil e tomou um navio, desembarcando em Santos em 15 de janeiro de 1954, onde viria a fixar residência no município de Praia Grande. Assim que chegou, imbuído do espírito de aventura, Shinzato passou a trabalhar na lavoura onde plantava principalmente agrião, tornando-se, em seguida, feirante em Santos. Neste período, Shinzato começou a praticar o karate nos fundos de sua casa, onde ensinava ao filho mais velho e aos filhos de alguns membros da colônia okinawana local. Em 1962 Shinzato fundou a sua primeira academia em Santos, que viria mais tarde a se tornar uma forte associação, e, 5 anos depois, fundou uma organização nacional, com centenas de academias e clubes filiados. Apesar de muito ligado ao espírito marcial do karate, Shinzato tem dado muita importância ao aspecto esportivo da luta, incentivando a prática do karate de competição, sem o qual, nos dias de hoje, uma arte marcial não sobrevive, principalmente com o advento do karate olímpico, após o reconhecimento da modalidade pelo Comitê Olímpico Internacional.

De tempos em tempos, Shinzato viajava a Okinawa para reciclar o seu karate com Choshin Chibana, sempre trazendo as novidades da ilha para o Brasil, procurando evitar a degeneração do estilo devido à distância em relação aos centros onde o Shorin-ryu é praticado em Okinawa. Após a morte de Chibana em 1969, Shinzato passou a manter relações mais estreitas com Katsuya Miyahira, o sucessor de Chibana no estilo Shorin da linha Kobayashi em Okinawa. Paralelamente, Yoshihide Shinzato associou-se com o Mestre Katsuyoshi Kanei (falecido em 1993), então presidente da International Okinawa Kobudo Assotciation, procurando complementar o curriculum do Shorin-ryu com as técnicas de lutas com as armas tradicionais de Okinawa. Miyahira visitou o Brasil em 1977, participando dos festejos do 15o. aniversário de fundação da Associação Okinawa Shorin-ryu Karate-Do do Brasil e do 10o. aniversário da União Shorin-ryu Karate-Do do Brasil, e em 1991, na comemoração do 20o. aniversário da Associação, ocasião em que fez demonstrações e ministrou cursos de kata para os karatekas brasileiros. Em 1992, Shinzato reuniu uma equipe com os melhores atletas do estilo e participou, em Okinawa, do Uchinanchu Festival, onde fez demonstrações e visitou mestres e academias famosos da ilha.

Quando indagado, Yoshihide Shinzato costuma responder que, para ele, o karate se resume em: disciplina, responsabilidade, harmonia, humildade e dignidade. Além disso, informa que, quando chegou ao Brasil, foi muito difícil se estabelecer, mas, segundo uma velha frase de seus antepassados que diz ?três anos sobre a pedra?, atingiu seus objetivos graças ao esforço e à participação de seus alunos, bem como à compreensão do povo brasileiro que o recebeu com muito carinho e entusiasmo. Com relação à técnica do karate, Shinzato explica que a prática do kata é a essência da arte. No entanto, a prática dos kihons também deve ser enfatizada para que o aprendizado seja completo, tanto que tem elaborado e sistematizado kihons ao longo de sua vida, tornando o estilo Shorin um dos mais bem fundados neste tópico. Dentro de um ano, aproximadamente, Shinzato espera terminar e publicar um livro onde vai mostrar a sua grande visão sobre o karate, apresentando o estilo Shorin e registrando para a posteridade os kihons e os katas do estilo que são os seguintes: Naihanchi Shodan, Naihanchi Nidan, Naihanchi Sandan, Pinan Shodan, Pinan Nidan, Pinan Sandan, Pinan Yondan, Pinan Godan, Passai Sho, Passai Dai, Kusanku Sho, Kusanku Dai, Chinto, Jion, Gojushiho, Unshu, Teisho e Kuryu Passai (estes dois últimos incorporados recentemente pelo Mestre Katsuya Miyahira), dos quais destaca como mais importantes os Naihanchi, os Kusanku e os Passai.

Quando perguntei a Shinzato qual o professor de karate mais importante para o Brasil, ele respondeu que era o pioneiro Harada (do estilo Shotokan), já falecido, praticamente o primeiro a introduzir a luta no nosso país. Indagando, então, sobre os que ainda estão vivos e atuantes, disse, sem falsa modéstia, que era ele mesmo, pelo Shorin-ryu, Keji Takamatsu, pelo Wado-ryu e Juichi Sagara, pelo Shotokan.A Associação Okinawa Shorin-Ryu Karate-Do do Brasil.

Apesar de dar aulas nos fundos de sua casa na Praia Grande algum tempo após sua chegada ao Brasil, somente em 3 de junho de 1962 Yoshihide Shinzato fundou a sua primeira escola, a Academia Santista de Karate-Do, na Rua Brás Cubas, no. 239, 5o. andar, em Santos. Em 15 de dezembro de 1962 a academia foi transferida para a Rua 15 de Novembro, no. 198. Três anos mais tarde, em 10 de junho, passou a se chamar Associação Okinawa Shorin-ryu Karate-Do do Brasil, sendo transferida mais uma vez para a Rua General Câmara, no. 146, 2o. andar. e depois para Avenida Senador Feijó, 219, 2o. andar em 15 de maio de 1976 . Hoje sua academia, (também conhecida como Shinshukan - nome derivado dos ideogramas que compõem o seu próprio nome, Shin de Shinzato e Shu ou Yoshi de Yoshihide, e Kan que significa ?academia?) fica situada na Avenida Senador Feijó, 616, 1o. andar, sempre em Santos, para onde foi transferida em janeiro de 2000. Seu dojo é frequentemente visitado por karatekas (de todas as faixas e graus), não só do Brasil como também do exterior. Nele são realizados os mais importantes cursos, dos quais participam praticantes, inclusive de outros estilos, sendo considerado a sede da União Shorin-ryu Karate-Do do Brasil, e reuniöes e assembléias onde são tomadas as principais decisões da entidade. Bastante espaçosa e bem equipada com makiwaras (tábua de madeira para calejamento de mãos e pés), sunatawaras (sacos de areia para treinamento de socos, cuteladas e chutes), e equipamento de musculação (apesar de utilizar ainda os antigos implementos inventados pelos professores de Okinawa, tais como os feixes de bambu e os jarros de cerâmica cheios com areia), a academia recebe mais de 200 alunos por dia.

Pelos registros já passaram pela escola mais de 7000 alunos do sexo masculino e mais de 300 do sexo feminino. Na academia são ministradas aulas pela manhã e à tarde nas segundas, quartas, sextas-feiras e sábados, e à tarde nas terças e quintas-feiras. Em quase todas as aulas o Mestre Shinzato participa com seus ensinamentos preciosos, onde fazem sucesso as técnicas de yakusoku-kumite - treinamento de defesa pessoal. O seu método de aula incorpora uma ginástica completa (com quase uma hora de duração), bases de ataque e defesa, katas, técnicas de defesa pessoal, luta de competição, prática com armas antigas e treinamento em aparelhos de fortalecimento físico e teoria de karate, onde estão incluídos o embasamento biofísico e bioquímico e filosofia zen-budista. O principal objetivo é atingir o fortalecimento físico e mental do praticante através de uma equilibrada harmonia de interação e a construção de uma perfeita ética de conduta moral.

Dentre os alunos de Yoshihide Shinzato destacam-se karatekas famosos, alguns campeões nacionais e internacionais do cenário brasileiro, sul-americano e pan-americano, outros eminentes políticos da Baixada Santista. Pelo seu grande trabalho de divulgação nacional e internacional do karate em prol, não apenas da modalidade, mas também de formação do caráter da juventude que pratica este esporte maravilhoso, Shinzato tem recebido muitos prêmios, sendo o mais famoso deles o título de Cidadão Santista, dado pela Câmara Municipal de Santos, em 1983. Em Okinawa seu trabalho foi reconhecido também e de Miyahira recebeu, em 1986, o título de 9o. Dan Hanshi. Na Confederação Brasileira de Karate Shinzato é considerado 8o. Dan.

Yoshihide Shinzato tem três filhos que também praticam o karate assiduamente. O mais velho e único nascido em Okinawa, Masahiro Shinzato, é 7o. Dan e que até 1999 era o presidente da Federação de Karate do Estado de São Paulo. O seu filho do meio, formado em engenharia aeronáutica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica, Nelson Mitsuhide Shinzato é 4o. Dan. O caçula, Eraldo Kazuo Shinzato, é Engenheiro formado pela Universidade de São Carlos e é 1o. Dan.A União Shorin-Ryu Karate-Do do Brasil.

Em 15 de outubro de 1967, Yoshihide Shinzato uniu-se a alguns praticantes do karate de Okinawa radicados em São Paulo que, embora praticassem o estilo Goju, estavam muito interessados no estilo Shorin (alguns até já o praticavam com Shinzato), e fundou a União Shorin-ryu Karate-Do do Brasil, uma entidade cujo objetivo é reunir as academias de Shorin-ryu a nível nacional. Inicialmente, apenas academias de Santos e São Paulo faziam parte da União. Cerca de 8 anos depois já haviam filiadas nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Sergipe, Paraíba, Bahia, Santa Catarina e Amazonas, congregando mais de 100 academias e clubes associados.

Todo último domingo de cada mês são realizados treinamentos especiais para faixas-pretas (os quais são obrigatórios para aqueles que almejam os graus mais altos). Cursos de arbitragem são ministrados pela União com a anuência da Confederação Brasileira de Karate e da Federação de Karate do Estado de São Paulo. Nos outros estados também é grande a participação das filiadas nos cursos organizados pelas Federações locais. Diversos torneios são realizados a nível estadual e municipal, mas uma vez por ano é realizado um campeonato do estilo Shorin do qual todas as academias e clubes filiados costumam participar. No fim de cada ano a União, sob a égide de Yoshihide Shinzato, faz realizar o Shorin-ryu Karate-Do Bonenkai, uma grande festa de confraternização onde são realizadas demonstrações e cursos de atualização de kata.

No Rio de Janeiro, o Shorin-ryu é representado pela academia Associação Studio Montreal, sede da Associação Okinawa Shorin-ryu Karate-Do do Rio de Janeiro, dirigida pelo delegado do estado perante a União, o engenheiro químico Luiz Rodolfo de Aragão Ortiz, 5o. Dan. Luiz Rodolfo tem participado nos últimos 10 anos dos principais eventos de karate no estado fluminense, tendo sido vice-presidente da Federação de Karate do Estado do Rio de Janeiro na penúltima gestão, ao lado do presidente Shingeme Kohara 6o. Dan (Shotokan). Hoje, Luiz Rodolfo participa da diretoria da Confederação Brasileira de Karate, mas suas atividades administrativas em torno do esporte a nível estadual têm sido bastante profícuas para o Shorin-ryu, o que tem tornado este estilo mais bem conhecido e respeitado, não só politicamente, mas também tecnicamente. A Associação Shorin-ryu carioca congrega um número elevado de academias, com diversos professores do 1o., 2o., 3o. e 4o. Dans e tem participado de forma marcante nos torneios e campeonatos estaduais promovidos pela Federação local. Graças ao empenho do Prof. Luiz Rodolfo, que matém ligações sempre muito estreitas com a sede da União, o karate Shorin-ryu do Rio de Janeiro tem sido o mais visitado pelo Mestre Shinzato, que frequentemente (pelo menos umas três vezes por ano) vem ao estado do Rio de Janeiro para ministrar cursos de atualização de kata e de Kobudo.
A International Union Shorin-Ryu Karate-Do Federation.

Com o crescente aumento do número de praticantes do Shorin-ryu Karate-Do nos países vizinhos ao Brasil, tais como Uruguai, Argentina e Bolívia, sempre sob a tutela do Mestre Shinzato, os representantes desses países resolveram fundar, em 1991, a International Union Shorin-ryu Karate-Do Federation. Embora na Argentina o Shorin-ryu já estivesse representado pelo Mestre Shoei Miyazato (8o. Dan), um discípulo direto de Katsuya Miyahira, esse okinawano deixou suas atividades relativas ao karate por motivos de saúde, fazendo com que Miyahira delegasse ao Mestre Shinzato a coordenação do estilo naquele país. Com a fundação da International Union, Shinzato passou a ter um controle mais organizado das atividades, agora não apenas na Argentina, mas também nos outros países da América do Sul onde se verifica a presença do Shorin-ryu. Existem representantes ainda nos Estados Unidos e na Austrália. Os seguintes países fazem parte oficialmente da federação:
Argentina - Hector Gonzales Ceballos (7o. Dan)
Austrália - HansYurgen Hoffmman
Bolívia - Gregory
Brasil - Yoshihide Shinzato (9o. Dan)
Chile -
Estados Unidos - Jan Moore
Uruguai - Juan Carlo

Yoshihide Shinzato espera que este organismo internacional cresça ainda mais nos próximos anos, principalmente agora que o karate foi oficialmente reconhecido pelo Comitê Olímpico Internacional. Durante o ano de 1996, Katsuya Miyahira pretende realizar o primeiro campeonato inter-estilos de Okinawa e Shinzato espera que haja entendimentos para uma possível associação com a International Union. Por outro lado, Shinzato já deu os primeiros passos no sentido de registrar o estilo na WKF - World Karate-Do Federation - que é a entidade internacional representante do esporte perante o Comitê Olímpico Internacional (substituta da extinta WUKO - World Union of Karate-Do Organizations), o que deverá trazer um enorme prestígio para o estilo Shorin da linha Kobayashi a nível mundial.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Okinawan Karate - Teachers, Styles and Secret Techniques - Mark Bishop, A & C Black Publishers Ltd, London, 1989

[2] The Essence of Okinawan Karate-Do - Shoshin Nagamine, Charles E. Tuttle Company, Inc., Rutland, Vermont e Tokyo, 1976
[3] Karate-Do Kyohan - Gichin Funakoshi, Kobundo Book Company, Tokyo, 1935